terça-feira, 27 de outubro de 2009

Escutando abobrinhas à la coreana

Eu sempre achei que essas coisas de racismos existissem mesmo, mas em um grau menor do que as reveladas por africanos chatos-reclamões e iranianos (como o Henrique). Na verdade, eu sempre tentei dar um desconto para os coreanos, com desculpas que são UM POUCO cabíveis. Quando chegavam iranianos ou africanos perto de mim falando que coreanos são cornos, filhos de prostitutas, racistas e tal, eu dava a desculpa explanada na linha seguinte.
Os coreanos sempre foram, da maneira deles, fechados para o resto do mundo, exceto nas vezes em que foram invadidos (seriam elas trossentas? Afinal, posso contar umas 5... só das que eu sei!). Desde a Guerra da Coreia, os cidadãos desta terra têm simplesmente ESCANCARADO as suas fronteiras para o exterior, querendo dar uma de "global", o que não é pecado. Porém, é fato que a geração da Guerra nunca teve muito contato com brancos, pretos negros, indianos, iranianos e etc e coisa. Portanto, era compreensível tamanha curiosidade por parte deles, quando não racismo, mesmo. Afinal, coreano assusta a qualquer coisa que seja diferente ao que eles estão acostumados (eu acho). Então pense naquela geração que já não está muito bem da cabeça, nunca viu uma pele mais escurinha, mas que de repente é obrigada a conviver com tipos de pessoas totalmente diferentes. Aliás, existe uma outra desculpa para os muitos comportamentos agressivos por parte dos coreanos: aparência conta MUITO.
Tá, você não foi convencido, né? Desculpa aê, não tenho a mesma propriedade que certas pessoas na hora de tentar fazer com que ela ceda aos meus argumentos. Então, caso você não tenha sido muito influenciado pela minha desculpinha meia-boca, não se sinta mal. Eu acho que nunca consegui convencer alguém de que os coreanos são vítimas de sua própria história! =P

Bem, como eu disse no post anterior, esse fim de semana estive em Daegu, a minha linda ex-cidade! Para quem se lembrava dos tempos que eu reclamava horrores dessa cidade, deve estar achando que alguém está me pagando para eu fazer elogios.. mas simplesmente aprendi a gostar de lá, depois de me mudar do céu para o inferno! Pelo menos o inferno tem uma coisa boa: um caminho mais curto em direção ao céu mais elevado da Coreia - Seul.
Bem, enquanto eu estive lá na cidade, fui para uma festinha de um cabra amigo meu que estava se mudando de casa. Na verdade, eu jurava que era uma fetinha, mas no final acabou sendo uma bebedeira normal, como qualquer outra que já tive nesse um ano e tantos meses morando aqui, com direito a Soju e umas side-dishes muito boas. Tava tudo acontecendo para ser só mais uma "호프 Night", mas os profissionais do soju ficaram muito bêbados e descontrolados. Aliás, eu nunca tinha visto o master, o cara, do Soju morto assim na frente da multidão; afinal, coreano que é coreano não ficaria tão mal assim em tão puco tempo (afinal, bebemos muito pouco para terminarmos naquela situação - e é mentira, coreano  que é coreano fica mal de qualquer maneira... é tudo lenda, apesar de coreano nascer com soju no sangue MESMO~). Bem, enquanto um deles estava brincando de se atirar em outros clientes em sua cadeira com rodinhas, um coreano estava dormindo. E o outro estava conversando comigo. Eu, querendo ser um bom 동생 (don-sén -> irmão mais novo, poxa! Aprenda logo essas palavras~), me esmerava para deixar a nossa side-dish mais próxima dele. Então, toda hora eu pegava uma porção de uma salada qualquer que estava mais longe dele, e jogava no prato dele. Claro, naquela altura do campeonato, não tinha como ser muito delicado, se é que você me entende. Então, eu simplesmente pegava os meus pauzinhos (chopstick - 젓가락 - chokárá) e deixava a comida que estava entre eles cair no prato do cidadão. Mas uma hora o lezo se irritou e falou: "ei, eu não sou preto pra você jogar a comida assim pra mim". Na boa, eu juro que até hoje eu tento entender que naquela hora ele estava bêbado. E MUITO. Porque simplesmente não têm explicação para aquilo. Eu arregalei o olho pra ele e falei: "ô animal, eu só estou tentando ser legal contigo e te servir uma comida que está mais longe de você. Agora tu vem me falar que o que eu estou fazendo só se faz para PRETO?". Não precisa falar que eu fiquei em estado de choque por alguns minutos, tentando entender toda aquela situação; afinal, eu nunca tinha ouvido face a face tamanha falta de respeito para com os meus "chegados mulatos". Na hora me deu um sentimento de desprezo total por aquele ser que eu considerava amigo... porque pra mim amizade revela também afinidades. E eu não compartilho de nenhuma idéia racista, por mais "de zueira" que ela seja.
Realmente, Henrique... ser iraniano ou negro é difícil na Coreia, né!? Huahuahua! Ou, eu tenho que zuar um pouco os outros pra não ficar puto com essa situação.
Bem, discutir com o doido lá e depois pronto, ficamos naquela e nunca mais falamos no assunto.

Mas calma... a abobrinha mais engraçada que eu ouvi foi na noite seguinte, voltando pra minha roça "querida". Depois de dar uma volta pela ex-universidade (post anterior) e indo para o Hard Rock ver um maluco coreano de longa data, resolvi voltar pra Cheonan na calada da noite. É sabido que a distância de Daegu para Cheonan, mediante o lerdo Mugungwha, é de 3h. E eu tomei o trem das 0h26. Nem precisa imaginar que horas eu cheguei em casa, né. Faz as contas aí, fera da matemática! =P
Bem, na hora que eu desembarquei na Estação de Trem de Cheonan, pensei: "será que rola de ir andando pra casa? Afinal, nem estou afim de gastar com taxi pra chegar ali... já que daqui até lá em casa só são 25 minutos andando!". Mas eu estava bastante cansado, então eu realmente "apelei" para o taxi. Só que pra isso eu tinha que atravessar a rua e dar mais alguns passos, até que um taxi pudesse me ver no meio daquela escuridão (tá bom, nem tava tão escuro assim... só que a iluminação não era LED! Huhu). Bem, e foi o que eu fiz, já pensando que certamente pegaria um taxi para "evitar a fadiga". Logo do outro lado da rua, às 3h da madrugada, tinha duas tiazinhas (as famosas ajummas) na delas, de bobs. Enquanto eu me aproximava do lugar onde elas estavam, para simplesmente virar a esquerda e continuar o meu caminho, elas ficavam fitando-me com os olhos, assim como qualquer outro coreano de Cheonan (ou melhor, de cidades menores que Seul) faria ao ver estrangeiros - também conhecidos como alienígenas. Quando estava para virar de costas para senhora, eis que ela manda um "아가씨~!" (Agachí - na tradução dos dicionários, "mulher já casada" young lady). Eu, na minha inocência brasiliense, não tinha entendido (ou não queria, tentando não ser o pervertido da história) o que a tia falou e perguntei, meio grosseiramente "뭐~?" (Muô - "Quê?"). Bem, depois que ela tentou ser mais clara pra mim, percebi que o pervertido na história não era eu! Haha! Ela repetiu o "agachí" e fez aquele gesto de "Tô ferrado", quando lá no ensino médio queria sinalizar a algum amigo ou pessoa próxima... ou então o outro sentido mesmo, que é o di "sékissu". E ela fez essa merda com a mão umas três vezes... eu fiquei com uma grande interrogação na minha cabeça e respondi "아뇨, 고마워", sendo grosseiro mesmo. Eu não sei aonde, mas já tinha ouvido dizer que o termo "아가씨" também significa "prostituta"... mas eu tentei com todas as minhas forças não ser pervertido de imediato, mas... me forçaram! Haha! Depois de agradecer pela oferta, saí de perto e peguei meu taxi. Logo que entrei, já puxei assunto com o motorista, em coreano: "ou, aqui nessa rua tem muita puta?", dando umas risadas, claro. Achando que eu não falo nada de nada em coreano, ele respondeu, misturando coreano com inglês: "응, 많이있어요~". Logo contei o porquê da pergunta: "é que umas tiazinhas ali atrás quiseram me introduzir umas putas", expliquei pro tio, ainda em coreano. Aí o cara partiu pro inglês mesmo, provavelmente para que não restasse qualquer dúvida: "No, no... bad! Bad!", afzendo uma cara de "quem comeu e não gostou"! Haha!
Só sei que eu fiquei um tanto quanto apavorado com a Gomorra que Cheonan têm se apresentado. Pelo menos em Daegu eu não me lembrava de ser tão escrachado assim... e em Seul era normal achar esses lugares em certos pontos, como Itaewon e Yongsan, não sendo tão escrachado (pelo menos eu nunca achei).
A putaria, pelo jeito, rola solta na cidade inteira... e eu achando que era só na rua onde eu vivo, também conhecida como "A Zona".
Bem, eu só fiquei meio espantado mesmo... porque eu não sou muito fã dessas coisas mesmo! E nem tenho dinheiro! =P

Continuem comentando, galeris...
abraços.

14 comentários:

  1. Estava eu procurando por informações sobre a cultura coreana e deparei-me com seu blog, que, aliás, é bastante informativo.
    Este seu último post fez-me lembrar de um amigo meu que estava à procura de alguma zona em Swon e parou num tal de "sexy bar", com várias garotas praticamente nuas e aparentemente "fazendo negócios". O mais engraçado é que ele entrou, começou a conversar com uma, outra e, após algumas doses de whisky, ele tentou fechar negócio com uma delas e na mesma hora umas três ou quatro praticamente se sentiram ofendidas com a oferta e disseram que ali era "a just talking place"...
    Coisas que só acontecem na Coréia hehehe

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  2. Aigu!

    De onde saiu esse seu dicionário??? Desde qdo 아가씨 (agassi) é mulher casada? É exatamente o oposto... A mulher casada é a famosa 아줌마 (ajumma), as dos bobs na cabeça. 아가씨 é menina, moça, senhorita. E, obviamente, dependendo do tom de voz usado pode significar uma "moça" com 써비스 (service). ;) Como o sentido todo está no tom e no contexto, é uma palavra perigosa, assim como, 당신 (dangsin) que pode ter tanto significado bom, como significado (altamente) pejorativo. Mas, com certeza, elas estavam oferecendo serviços para vc...

    Um abraço e vê se compra um dicionário novo (ou aprende a procurar direito as palavras) ;)

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  3. Acho que eu confundi os "kikos" na hora de escrever, porque eu tava pensando em Ajumma e na hora de postar deu um creck na cabeça... huahuahua! Tenho que comprar um dicionário novo não, tenho que comprar um cérebro novo, que seja mais atencioso ao que está escrevendo. Isso é que dá ficar tentando fazer mais de uma coisa ao mesmo tempo! =(
    Agora peguei o dicionário do meu celular e copiei logo a merda em inglês pra não dar mais erro! =)

    Ah! O 당신 cê me explicou outro dia..! Esse eu ainda não esqueci.. =P

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  4. Estou surpresa com essa falta de tato que eles tem quanto a isso. Que coisa, racismo? ¬¬
    Quanto a prostituição, sei la, eu estou acustumada. Em manaus/Amazonas, proximo ao Tribunal, existe inumeras "mulheres" a partir das 8h da noite...Entao, sei lá, acho que é comum...

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  5. tava procurando coisas no google qnd me achei seu blog ... já faz uns dias, li tudo ... como vc sempre escreve q ninguem comenta,fiquei com dó..kkkk( brincadeira) por isso aqui estou eu comentando...
    dei muitas risadas lendo suas aventuras em solo coreano...

    acho q é um lugar q eu gostaria de conhecer...

    o preconceito contra pessoas mais escuras é igual tanto para os homens quanto para mulheres???

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  6. Ola, namoro um coreano ha 5 anos e fazendo pesquisas no google descobri vc e o Henrique, acompanho sempre as aventuras de vcs dois e adoro saber cada vez mais da rotina coreana...quem sabe ano que vem terei a oportunidade de ir ate ai conhecer melhor.
    Sucesso p/ vc,

    Katia.

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  7. Gustavo,

    Adoro o seu blog também =)
    Não fique chateado achando que esta escrevendo pra ninguem, eu sempre dou uma lidinha no seu blog =)

    Em um post anterior, eu li que vc morava no meio da fofoca, e to vendo que é mesmo... ehehehe

    Eu, com meu coreano de kdramas, tinha visto apenas agashi para senhoritas, e vi sendo usado apenas naquele épico Jumong =) Deve ter o mesmo significado do "madame" que tem aki pelas minhas bandas brasileiras.

    =)

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  8. Sobre o racismo eu nem comento mais. hahaha

    Agora esse negócio da putaria... até parece que Cheonan é a Gomorra da Coreia! Quando o Juliano me mostrou as agashis na vitrine em Yongsan era tipo umas 3 da tarde! E eu achando que era modelo de lingerie... hahaha. E aqui perto de casa, você não lembra o tanto de panfleto que jogam nas ruas depois de uma certa hora da noite?? E aquele lugar em cima do bar chamado "Brazil" (que aliás, mudaram o nome pra "Beerholic"ㅠㅠ) onde tinha agashi com os peitos de fora?? E todos aqueles anúncios de "Sarang Norebang"??

    Pode até ser que aí tenha "um pouquinho" mais cara de zona... rsrs. Mas a hipocrisia sexual coreana rola solta em todo lugar, meu filho!!! ^^

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  9. Um dia desses vi um documentario sobre certos lugares da Coreia que oferecem serviços escancarados e até as famosas Barbearias falsas =D.
    Sobre o outro post, é o que sempre digo :
    "Eu era feliz e não sabia!"

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  10. Bom, pelo menos agora todos sabem que a Coreia é um país normal como qq outro, tendo a profissão mais antiga do mundo. Os próprios coreanos tentam passar uma imagem que as mulheres coreanas (todas) são castas e santas, só as ocidentais que são vadias. Uma vez falando com meu amigo coreano sobre prostituição e homossexualismo, ele falou que na Coreia não tinha isso (hã?), perguntei em que planeta ele vivia, já q isso tem no mundo todo, inclusive na Coreia. Mostrei para ele o vídeo da parada gay coreana e a foto das "moças" coreanas nas vitrines ele se irritou. Gostos dos coreanos, mas eles vivem com os olhos vedados p/muitas coisas.

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  11. Você trocou as palavras porque em vez da 아가씨 tava pensando em uma 아주마? o.O

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  12. Henrique.
    Na minha primeira semana arrisquei ir ao Shopping em Yongsan às 8h00 da manhã. passei pelas meninas na vitrine e achei que eram manicures. LOOOOL
    E ainda pensei: Tão cedo e já trabalhando essas manicures???


    Fala Gustavo!
    Normalmente o preconceito contra vocês do Uzbek é menor, não?

    Viva o grande Uzbequistão!

    Um abraço

    Almir

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  13. Qto ao comentário infeliz e racista do cara, CRETINO! Como coreana, tenho vergonha alheia qdo isso acontece!

    Qto as tias falando AGASHI, acho que elas estavam TE chamando...tipo se enganaram, estava escuro, vc magrinho e tal...
    :-)

    bjs, Stella II

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  14. Pô, desse jeito, se o iraniano se irritar é capaz de lançar uma praga letal sob as bençãos dos aiatolás...

    Se bem que, nos tempos áureos, os (medo-)persas aquemênidas dominavam um vasto império que se estendia até a Índia e China...

    Quem sabe ele não tenha uma gota de sangue oriental? Com o tempo, os olhos dele poderão começar a se estreitar...

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