sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Vacina, quê?

Como as pessoas sabem, existem países que requerem um comprovante de vacinação para entrada no país. Isso é exigência, para muitos, sob o controle de febre amarela, por exemplo.
E como eu estou indo para um lugar desses que é obrigatório, lá vou eu percorrer Seul a procura de um lugar.
Hoje, fui na imigração aqui de Jongno tentar colocar um "adesivo-visto" coreano no meu passaporte novo. Pra ver se já adiantava a minha vida, de quebra perguntei se a menina que me atendeu lá sabia de algum lugar onde eu poderia tomar vacina para febre amarela. Ela botou um ponto de interrogação bem gigante na testa e falou que só era da Imigração, não tinha nada a ver com a história de vacinas. Mas depois soltou que teria nos 보건소 (Health Center - Centro de Saúde) da vida.
E lá vou eu no mais perto da minha casa, no centro de Jongno. Depois de caminhar um milhão de anos, já que me perdi com aqueles mapas mal-feitos, bem estilão coreano mesmo, acertei o lugar. Sim, depois de uma hora e meia caminhando sobre a neve, sem luva ou outra proteção que não fizessem meus dedos da mão caírem de tão congelados que estavam (chega a mão ficava vermelha), passeando pelo Gyeongbokgung e pelo centrão da cidade, eis que me deparo - na verdade eu tive que adivinhar pelo mapa, porque é meio escondido - com o tal. Chegando lá, como sou o "gringo dã", já sabia que não iriam entender meu coreano super-fluente. Então, parti pro inglês e "vamo que vamo". Uma tiazinha me atendeu, em inglês (uffa!), e pedi pra ela uma vacina para febre amarela. Bem, eu tinha a idéia brasileira de que qualquer muquifo que se chamasse "Centro de Saúde" deveria ter as vacinas mais normais do mundo. Só para contrariar, a senhora me responde que não. Putz... dai eu pensei, quase xingando a corebada inteira: "Como assim NÃO?". Como eu estou naqueles dias meio esquisitos, que normalmente as mulheres que sabem mais (as known as TPM), eu fui muito impaciente com ela e perguntei: "ok, tia, então me dá uma dica aí. Eu realmente preciso dessa vacina. Imagine que eu chego lá no aeroporto e eu não tenho a tal da vacina. A senhora acha que eles vão deixar eu entrar? A senhora acha que eu vou ficar com uma cara de feliz ao ouvir um "você vai voltar pra Coreia, aqui está bloqueado para o senhor" ?". Nossa, a mina ficou desesperada tentando me ajudar. Saiu ligando para vários hospitais, mas ainda cometia aquele erro de todo coreano bunda: "Alô? É do hospital X? Então... tem um wegugin (estrangeiro) aqui e ele quer tomar uma vacina de febre amarela, vocês tem aí?". Nem precisa falar que o percentual de negativas era 100, né! E não me espantaria se a causa fosse o adjetivo que descreve a minha pessoa como "semi-gente" aqui na Coreia. Daí, grilado com a situação, mandei uma no estômago da coitada da ajumma: "Olha, minha senhora... não precisa ligar e falar que eu sou gringo não, tá. Aqui na Coreia algumas pessoas rejeitam os gringos, então fala que tem uma PESSOA que ser vacinado porque está indo para um lugar bizarro, pronto. Beleza?". Ela olhou com uma cara, e falou com um tiozinho atrás: "é, mas gringo e coreano são a mesma coisa, né?". Acho que só ela, do posto de saúde, que não sabe as merdas que a gringaiada sofre por aqui para ser tratado de igual pra igual com os nativos.
E é ligação que não acaba mais, o tiozinho atrás dá uma dica de hospital que não dá certo (ps: ela retirou a palavra GRINGO e só falou que tem alguém querendo ^^), e vai, e volta, e olha no catálogo de hospitais, vai no Naver, no Daum.net... e nada. Tentei falar pra ela que eu era estudante, que não tinha muito dinheiro (dizia a lenda "julianística" que postos de saúde tem diferentes preços de hospitais - nestes, exorbitantes)... ela deu uma risada e falou que sabia disso, mas que não conseguia achar um outro posto de saúde que fizesse essa mesma vacina.
No final de toda aquela novela, com clima detetive e fim trágico, ela me dá o veredito de suas investigações: "olha, tem esse aqui em Dongdaemun e outro no Aeroporto de Incheon. O primeiro é mais perto pra você... mas custa 32,000 wons (25 dólares) pela vacina de febre amarela". Eu olhei pra cara dela e falei: "Eu não te disse que ia ser mais caro que aqui!!!!! Poxa, não tem outra maneira não?". E ainda, pra piorar, o sistema ainda quis dificultar ainda mais a minha vida: "bem, tem muita gente indo pra lugares estranhos - com doenças contagiosas - portanto você tem que agendar com um dia de antecedência.. e só vai rolar de você entrar lá dia QUATRO DE JANEIRO". Depois de todo esse esculhambaço, eu só tenho a agradecer a esta tia. Ela foi toda paciente comigo, mesmo em meio a minha carga de TPM pra cima dela, me ajudou tentando ligar pra outros hospitais e ainda fez uma reserva pra mim (de enfiar a faca). No final de tudo mesmo, mandei um "nossa, só tem em dois lugares, hein... pelo jeito coreano é imune a tudo, não deve precisar dessas coisas de pobre! Hahahaha" Ela só deu aquela risada, típica de "uffa, fiz meu trabalho, agora ele que se exploda"!
De coração, obrigada, ajumma! Você está no meu coração! :)

Mas eu fico imaginando... numa cidade com mais de dez milhões de habitantes, pessoas que supostamente deveriam cuidar da saúde paga pelos impostos, ficam brincando com as vidas alheias. Não só brincam, como cobram o olho da cara por um medicamento essencial na vida do ser humano de país sub-desenvolvido :P
Lá vou eu enfiar o pé na jaca por causa de cretinos como esses...

Fica o meu protesto contra o serviço de saúde oferecido na Coreia.

E vocês... fiquem com as fotos que eu tirei no caminho para o posto de saúde:

 (saindo de casa, a neve... duh!)

  (saindo de casa, a neve... duh 2!)

  (saindo de casa, a neve... ECA! Isso é o que acontece depois de um tempo.. ainda acha neve bonita?)

  (saindo de casa, a neve... quer tomar um tombo de leve?)

  (no caminho de Anguk... um palácio aleatório aí chamado Changdeokgung)

  (casas, obviamente reformadas, em Bokcheon)

  (eu com toca para proteger os ouvidos e o cabelo curto... além da barba por fazer no meio da "tradicionaleza")

  (além do horizoooooonte.. dessa Coreia de ruas tão curtinhas! ^^)

  (bonecos de neve... eu que montei: meu passatempo favorito! :P)

  (COUPLE! COUPLE! PERIGO! PERIGO!)

  (M de...?)

  (onde o velho se contrasta com o novo...)

  (o antigo com o moderno...)

  (Bunitinhu, baby!)

  (mais do mesmo)

   (queria que os palácios de Brasília fossem assim, seria mais estiloso, apesar de ser NADA A VER com a cara do Brasil)

   (neve, neve e mais neve...)

   (City Hall - Xínê - Dáuntáum - Centrão)

   (O bicho escroto do lado é o Haechi, guardião coreano - lenda)

  (Parabéns pra eles!)

  (Como-lhe? Explicando: agradecimentos aos países que salvaram a Coreia do Sul de se tornar comunista)

  (sim, a Guerra das Coreias está no Guinnes Book com a guerra que teve mais países aliados - nego acha vantagem pra TUDO nessa vida)

  (Caveirão da SWAT coreana guardando a embaixada do Tio Sam)

  (Uh! Caveira!)

  (PMs levando a marmita para os que protegem o santuário americano 24hrs)

  (O pirulito da eleição!)

  (Eu e o maior feito do presida Lee Myung Bak)

  (Eu e o Haechi versão baby... coisa de macho, claaaaaro!)

  (O rio mais famoso da Coreia- por ser despoluído - te desejando feliz natal e um próspero ano novo)

  (Vamos fugir... DE CARRUAGEM! Sim, como bons judeus, os coreanos fazem comércio até nessa área)

Para os que querem uma dica, em vez de postar comentários, já vou falando logo:
- Hospital perto de Dongdaemun: 02-2262-4833
- Aeroporto: 032-740-2703
- Outros sites úteis: Lista de hospitais para yellow fever, Sodaemun Posto de Saúde

Se tiverem outros lugares onde eu possa ter acesso a siringa por um preço mais acessível, postem um comentário ou algo que valha a minha atenção.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

É Natal, é natal!

Ho ho ho!
Sim, finalmente eu vou tirar a grossa camada de poeira que se empregnou no blog depois de todo esse tempo parado! E logo na véspera de natal! Ó como eu sou legal, estou até dando presente para os parcos leitores que sobraram neste recinto! :)

Em cada natal (já é o terceiro, nas minhas contas) que passo nesse universo único que é o oriente, eu me surpreendo mais. Positivamente e negativamente, claro...! Pra não variar, o frio anda estragando com a minha vida diária, me tornando rarábôjí (할아버지 - vovô) durante todo o inverno coreano. Vou logo me auto-incriminar: eu visto aquelas calçolas por baixo do jeans, para ficar mais quentinho. Pode vir me sacanear, falando que é de velho ou de viado, mas antes ter um desses adjetivos do que morrer com esse clima que afugenta qualquer possibilidade de ter diversão por aqui.

(o objeto da vergonha)

Como vocês devem saber, uma grande parte dos coreanos acreditam em Deus. Outra enorme parte não. Mas acreditar ou não no Papai Noel não faz muita diferença, já que o negócio aqui é CONSUMIR e curtir a data. Portanto, os coreanos aceitam o Natal de braços bem abertos, até demais para quem era de maioria budista até não muito tempo atrás.
(PS: Claro que já rolou até porrada e críticas no governo porque o presida Lee é crente e quis colocar árvore de natal e os caralhos de feriado para o Natal, mas para os budistas, não sobrou muita coisa nessa vida de feriados e comemorações)
As cafeterias e outras milhões de lojas de departamento estão aí para suprir a necessidade capitalista da galera, que mesmo com a Crise 2009/2010, não hesitam em usar o cartão de crédito no limite. 
Eu fico pensando, às vezes, quão reclamão o empresário brasileiro é na hora de um feriado que pode trazer tanto lucro pra ele. Aqui existe SERVICE (no bom português, regalias grátis caso você compre alguma besteira) para tudo quanto é coisa. Hoje mesmo fui comprar o meu presente de natal e eles fizeram a embalagem natalina NA FAIXA pra mim. E não é porque eu sou gringo, imagino eu. Sério, ou eu sou muito ruim de escolher lugar pra comprar, ou isso realmente é difícil de existir no Brasil. Então, empreendedores do meu Brasil varonil, abram o olho e aprendam, mais uma vez, com os coreanos.
Normalmente, os lugares em que a gente gasta dinheiro por aqui já tem um aspecto meio cute, meio viado, como o mundo oriental já é (vide Japão). Na época do Natal, então, o negócio aflora o sentimento rosado dos coreanos e aí salve-se quem puder de tanta purpurina!
Esses dias mesmo eu fui pegar o ônibus 140 para Itaewon e guess what: ele estava todo decorado com apetrechos natalinos... que bonitiiiinho! A mulherada de plantão, então, deve quase virar os olhos de tanta emoção ao ver uma coisa viada fofa ao extremo desse jeito:

(busão desejando "Merry Christmas" em coreano)

(dentro é praticamente um carro alegórico)

(welcome onboard, Houston!)

(Ho ho ho! 메리 크리스마스)

Como parece que a grande maioria dos coreanos (especialmente os ateus/budistas/qualquer outra religião não-cristã) não é muito antenada no verdadeiro significado do Natal, o evento acaba sendo sinônimo de gastança e... NAMORICO, claro! 
Pelo menos no Brasil que eu conheço, as famílias se reúnem, comem juntas, distribuem presentes e etc que todos vocês devem imaginar, talvez fruto da influência européia e estadunidense em nossos lares tropicais. Mas aqui o negócio não funciona bem assim. Dizem os coreanos que eu conheço (não venha aqui para me desmentir caso o seu amiguinho coreano não faça isso!) que o normal é ficar de couple - isto é, em vez de ficar com a família, ficar com o seu namorado, namorada, pegante, amante, whatever - no dia do Natal e levar o parceiro para um restaurante muito bom. A explicação parou no restaurante, mas diz a lenda que nessa época os motéis coreanos estão mega-lotados e faturam que é uma beleza! 
Para quem pensa que coreano é "super-família" e etc, deve ter ficado triste com essa coisa não muito unida deles, né! Haha!

Bem, agora que vocês já puderam ter uma noção do nível da papagaiada, eu vou-me embora!
Feliz Natal a todos os que quiserem receber presentes! :)

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Resumo: Participação coreana no Mundial 2010

Como estamos em ritmo de Copa do Mundo, nada mais normal do que falar da própria.
Sim, poucos leitores que restam, eu ainda estou vivo! E cá estou hoje, comentando sobre as besteiras da vida cotidiana na Coreia.

Essa é a primeira vez que eu assisto uma Copa do Mundo fora do Brasil... e por não saber onde estarei durante a próxima, em 2014, não vou colocar esta como a única (obviamente, em 2014 vou fazer um esforço SOBRE-HUMANO para estar no Brasil e poder morrer na guerra que será a Copa por lá! Haha!).
E essa primeira impressão está sendo um tanto mágica, por estar em um país que se rende a qualquer evento internacional, PRINCIPALMENTE a Copa do Mundo.
Ver aquele amontoado de "japas", praticamente um em cima do outro, no City Hall (시청) de Seul é uma coisa bastante diferente para quem nunca teve a sensação real de uma Copa, já que Brasília não é exatamente um centro de comemorações desse tipo de evento.

A primeira partida eu fui ver em 홍대 (Hongdae, lugar conhecido por bares bons e baratos, clubs, universidades, entretenimento em geral..) uma coreanada maluca. Fomos para um bar às seis da tarde, mesmo sabendo que o horário do jogo seria somente 2 horas depois. Por razões óbvias, sabíamos que esse antro estaria lotado em poucos minutos após a abertura. Motivo: mediante o pagamento de 20 mil Wons, você entrava no bar e poderia ter cerveja até entupir o estômago ou acabar com o seu fígado. Não precisa dizer que uma fila imensa se formou, mas, que graças à esperteza de poucos, fomos o segundo grupo a entrar. Portanto, reservamos uma mesa bacanésima em frente a um telão de proporções desconhecidas, que tomava literalmente toda a parede do recinto.
Ao começar o jogo, todos já estavam doidos, excitadíssimos com a possibilidade de uma vitória sul-coreana. Nomes que não paravam de sair da boca da turma: Park Ji-Sung (박지성), Park Chu-Young (박주영) e Lee Chung-Young(이중영) - principalmente o primeiro deles.
Para não perder a viagem, eu tentava sacanear os coreanos no meio do bar... "por que não?", pensava eu. E assim, nas vezes que a Grécia chegava a assustar o gol coreano, eu soltava uns "uuuh", "그리스" ou algo que valhesse só para ver a cara de espanto de geral. E aí começavam: "ah, Gustavo! Você não pode torcer pra eles não! Você tem que torcer pra Coreia! O time é muito bom!". Era só perguntar se tinha mais alguém mais que se projetou no futebol mundial, além do Ji-Sung.. aí eles não podiam falar muita coisa, já que metade da seleção vem de times como Jeju United, Pohang Steelers, Seoul FC. Conhecem? Nem eu... (mentira, eu conheço porque eu vivo por aqui, mas vocês eu duvido muito).

O segundo jogo, contra a nossa amada Argentina, foi cair justamente num horário bacaníssimo aqui pro horário da Coreia: quarta-feira, 8h30 da noite. Meu professor queria me prender nesse lugar chamado laboratório, mas eu dei um jeito e corri de lá. Fui pro meio da gandaia, em Seul, marcar presença o que eu chamaria de um verdadeiro inferno o local que cerca a prefeitura da cidade. Quando eu cheguei lá, mal dava para respirar. Eu estava suando que nem um porco, com sede, me sentindo numa estufa.


(Eu estava no meio dessa multidão aí.. o inferno coreano em plena praça da prefeitura!)

Lá tinha de tudo, desde vendedores de rua até pessoas oferecendo abraço grátis. Para não deixar de sacanear um pouquinho, fui abraçar um deles. Como estava pingando de suor, abracei e esfreguei a minha cara molhada na bochecha da menina. Não precisa falar que todo mundo começou a rir, já que era uma verdadeira Tropa Free Hugs... e eu sai rindo pra caramba! Divertido brincar com esse povo..


(Os pestinhas vestidos de 붉은악마 preparados para tomar uma peia do Higuaín em plena 광화문)

A partida foi um tanto engraçada para MIM, brasileiro. Sentei no meio da rua e comecei a ver. A coreanada era levada a loucura com qualquer chute bosta que os jogadores sul-coreanos mandavam. Mas, ao tomar a primeira bomba argentina, o povo já se assustou. Mas uma coisa é bem legal: eles nunca se desepontam por completo. Fica aquele silêncio, nego mandando para aquele lugar o tiozinho que ficava fazendo propaganda cristã com um alto-falante no meio do jogo, bebendo cerveja na rua, olhando pros lados... mas dois minutos depois, começavam a gritar "한국~오~ " (Hanguuuuk, ooooh), uma das canções que os coreanos andaram fazendo para a seleção desta Copa de 2010 e que virou modinha entre as torcidas do país inteiro.
Até o terceiro gol argentino, os coreanos ainda soltavam uns "괘찮아~!" (Está tudo bem), mas com a convicção que estavam tentando ressuscitar um cachorro morto. Assim que saiu o quarto gol, aí nego já ficou meio puto da vida. A multidão começava a se levantar do meio da praça e sair, já que o "cachorro morto finalmente foi dado como morto". Eu fiquei lá até o final e mais um pouco esperando, já que o metrô estaria entupido de gente.




(Sinta o mar de gente que estava essa praça, no dia do show dos argentinos)


O terceiro jogo, contra a Nigéria, foi o pior de todos até o momento, já que foi passado às 3h da manhã e no dia seguinte eu teria que ir para uma reunião com o professor. Portanto, eu fiquei na pacatíssima Cheonan.
Não foi minha surpresa ao ver a cidade deserta durante a hora do jogo, enquanto eu olhava a situação totalmente oposta em Seul, com geral nas ruas que rodeiam a prefeitura.
De acordo com o governo, não deveriam existir manifestações públicas nesse horário (sim, existe uma lei contra isso), mas fizeram uma excessão porque era COPA! E da-lhe corebas em plena madrugada soltos pelas ruas... menos em Cheonan.
Chamei uns meninos da faculdade para assistirem comigo no único bar da cidade que teria um telão e que estava passando todos os jogos do Mundial. Chegamos lá as 3h, meia-hora antes do jogo. Ao entrarmos, já nos deparamos com quase todos os lugares cheios. Se você acha que eu estava menosprezando o nacionalismo do pessoal de Cheonan, aí é que vocês se enganam. O bar era pequeno, e só lotou um pouco. Ainda assim conseguimos um lugar bem confortável atrás de umas meninas doidinhas, em que o assunto principal durante a partida era falar que o jogador X ou Y eram bonitinhos.

(Vendo o jogo no úinco bar de Cheonan disponível para ver os jogos do Mundial 2010: Beer Pub)

O jogo foi bem no estilo de Seul, com os mesmos cânticos, mesmos gritos de 괜찮아 quando o cidadão tomou um gol feio e etc. Ao acabar o jogo, todos abriram um sorriso na cara e foram para casa, silenciosamente, como nada tivesse acontecido.
Nem precisa falar que foi o pior jogo dos olhos puxados que eu tinha assistido, se fizer um ranking.

O último jogo dos asiáticos foi contra o Uruguai, nas oitavas de final (16강). Fomos eu e uma cambada de gringos da época de Daegu (como dizem alguns, a "Daegu Family") assistir um jogo em 신촌, no barzinho chamado BarFly - nome bem sugestivo. Como já esperávamos, o bar só faltou virar de cabeça pra baixo antes, durante e depois do jogo. Ao chegamos, ainda não tinha muuita gente. Mas não precisou faltar menos de meia-hora para que o recinto se transformasse em uma verdadeira pólvora humana.
Depois do primeiro gol dos uruguaios, a coreanada ficou caladinha, sem falar um pio. Mas claro, como bons nacionalistas, recomeçaram, poucos minutos depois, a incentivar a sua seleção, afim de levá-la ao quarto lugar, assim como o fizeram na grande (roubada) campanha do Mundial de 2002. E não é que os gritos deram um pouco certo? O time dos Parks conseguiu empatar, para a euforia dos vermelhinhos que estavam no bar.
Eu e mais alguns gringos, que nada tínhamos a ver com a situação toda, dávamos um caldinho de ajuda aos corebas, tentando incentivá-los, abraçando-os ao ver que os Parks estavam sentando na merda e etc.
Com o segundo gol uruguaio, a corebada foi derrubada emocionalmente, restando poucos gritinhos. Mas como tudo na Coreia, um minuto depois a vida continua e todos foram dançar, graças à uma promoção extremamente boa por parte do dono do bar: a cada gol coreano, um shot de tequila. Nem precisa dizer que nós ficamos agradecidos por receber aquele baaanho de suco mexicano!

"괜찮아, 괜찮아, 괜찮아...!"
("Tudo bem, tudo bem, tudo bem...!")

E com esses gritos que acabou a campanha sul-coreana na Copa do Mundo de 2010

PS: 붉은악마 (Bulk'n Acmá = Diabos Vermelhos) é como são chamados os torcedores fanáticos da seleção sul-coreana. Desde 2002, os torcedores da Coreia do Sul se vestem com blusa vermelha e um arco com chifres piscantes, simbolizando, obviamente, os diabos.

Enquanto isso, se eu fosse os brasileiros, tomaria cuidado com um certo Jeong Tae-se, jogador da seleção da Coreia do Norte. Os norte-coreanos devem estar se preparando para investir no Brasil! Abre o oooolho, camaradas!

terça-feira, 1 de junho de 2010

Futebol coreano

Como todos devem saber, o mundo do futebol envolve muita coisa hoje em dia. Mais do que paixão por uma bola rolando em um espaço coberto de grama. É muito dinheiro. Mas também significa orgulho de uma nação, um povo, uma etnia. E adivinha: obviamente os coreanos não estão fora desse grupo de pessoas que tornaram o futebol a bandeira do orgulho.
Não sei se muita gente se lembra da Copa de 2002, aquela que o Brasil foi campeão em cima da Alemanha. Eu mesmo não me lembro de muita coisa daquele tempo... acho que estou ficando meio caduco, já. Mas para quem coçou a cabeça um pouquinho para revolver os neurônios parados e teve um flash de lembrança daquela época (como se tivesse acontecido há um século atrás), essa imagem deve significar bastante:



(Primeira foto: Estádio de Seul; Segunda foto: uma multidão de olhos puxados na área de Gwanghwamun, Seul, em 2002)

(ABRE PARÊNTESIS)
Eu sei que tem muito tarado que acaba parando aqui no blog. Para estes piroca-aflitas de plantão, loucos por asiáticas e se lembram mais das olhos puxados do que das imagens acima, vai um colírio refrescante para os seus olhos:







(FECHA PARÊNTESIS)

Bem, eu mesmo não me lembro de ver imagens parecidas com essas durante qualquer outra Copa do Mundo ou algo em que um aglomerado de pessoas representasse uma nação ou grupo gigante de pessoas. Tá, no futebol cotidiano a gente vê dentro do estádio, principalmente nos brasileiros. Aqui, eles não costumam lotar estádios por campeonatos locais. Mas quando se está falando da REPÚBLICA DA COREIA, da 대한민국, dos 한국인, aí o bixo pega. Eu até hoje não consegui achar um povo mais nacionalista que o coreano.

(Parece até aquela apresentação norte-coreana ARIRANG, todo mundo em coreografia no estádio! ^^)

 Eu mesmo gosto muito do meu Brasil de merda, mas não tenho orgulho e muito menos sou a pessoa certa para defender a minha pátria amada em qualquer situação. Pelo contrário... se der oportunidade, lá estarei eu para dar uma cutucada no país que eu amo de paixão. Mas a galera daqui.. sai de perto (não literalmente, por favor... espero que você tenha entendido o que eu quis dizer!). Eles têm um sentimento de identidade com o país, o sangue, que é uma loucura. Então qualquer evento em que eles possam representar essa bandeira brancona simbolizando os "corebas", estes estão causando um alvoroço do demônio. Quem aqui na Coreia não se lembra dessas Olimpíadas de Inverno, em Vancouver, Canadá? Era todo santo dia, santa hora, santo minuto passando notícias, replay, re-replay, re-re-replay da Yuna Kim, patinadores de grupo (sim, aquele que foi desclassificado por ter dado um pesão na chinesa), etc.
E, claro... desde o começo do ano os canais de televisão aberta da Coreia têm transmitido com frequência as partidas da seleção coreana. E não é de jogos ao vivo. Os diretores vão lá no baú da emissora e pegam aquelas fitas velhas da Copa de 2002, na "vencedora campanha" dos sul-coreanos na Copa de 2002, quando conseguiram um EXTRAORDINÁRIO (e bem roubado, diga-se de passagem) quatro lugar, sob a tutela do mágico holandês Guus Hiddink. Obviamente, esse momento saudosista não é relembrado à toa pelos manda-chuvas da TV. Eu penso que é para que ascenda ainda mais o sentimento patriótico que o povo coreano parece necessitar. Afinal, como eu já disse milhares de vezes aqui, parece que os corebas se sentem inferiores aos seus vizinhos grandões, achando que não são importantes o bastante para o mundo.
Mas isso é tópico para o próximo post... deixa quieto aê engavetado!
E o pior desse sentimento nacionalista exagerado é ter que assistir esse tipo de coisa:

(A banda coreana que tem que entrar para o Guinness: Super Juniors)

Afinal, SUPER JUNIORS who???
Eu estou para conseguir uma razão melhor para esses k-estrumes terem sido nomeados embaixadores do branding da Coreia pelo mundo. Que porras eles vão oferecer ao mundo, que não as dancinhas robóticas? Poderiam ter arranjado outra personalidade melhor que esses toscos... hahaha!

(Propaganda bem feita para a Copa de 2010 - muito bacanosa!)

Mas os coreanos têm feito grandes coisas pelo mundo, que é o motivo de eu dar uma pincelada sobre o tema da bola. Vários devem saber que a Coreia tem tentado se posicionar como uma potência global no cenário internacional, nas mais diversas áreas. E uma das mais importantes é a de ajuda humanitária. Esses olhos puxados são o segundo país que mais envia voluntários no planeta Terra, atrás somente dos pela-sacos Estados Unidos da América.
E o futebol coreano também abraça essa perspectiva, coisa que até onde eu sei a entidade CBF nem chega muito perto de fazer, até onde eu conheço (sim, eu sei que existem projetos sociais para descoberta de novos talentos e blá, blá, blá... mas nada muito sólido, no meu humilde e totalmente sem fundamento ponto de vista).
Estava eu passando pela área de Sinchon (bairro bacana de Seul) no sábado passado. Olhando pela janela, "meus olhos de águia" capturaram a imagem da loja de marca coreana THE BASIC HOUSE. Estava lá uma propaganda gigante na porta de entrada fazendo o anúncio de um produto (óóóóbvio!): era uma camiseta para que o povo comprasse na época da Copa. Mas não era mais um mercado para empanturrar o dono da marca de dinheiro, e sim um tipo "Criança Esperança", em que se você comprar uma camiseta, parte do valor será doado para a Unicef.

(O baitola e a linda cooperando para o bem da humanidade)

(혼자일땐할수없는.. quer dizer "nunca sozinho", mesmo) 


(Campanha da Basic House em vídeo)


Se tem uma coisa que os coreanos aprenderam com a Guerra da Coreia, é valorizar a ajuda ao próximo. Talvez você tenha conhecido uns coreanos meio cornos na vida, mas a maioria é bem simpática e, apesar do jeitão meio "judeu" (querer ganhar dinheiro em cima de tudo e todos), eles aprenderam bem a lição quando tiveram que dar as mãos (e talvez outras coisas mais) aos os norte-americanos. Acho que desde então, os sul-coreanos têm tido atitudes louváveis como essa. Depois desses atos, eles conseguiram ganhar uns mil pontos comigo... (mas o problema é que sempre acabam voltando ao estado 0, já que fazem cagadas atrás de cagadas e me fazem diminuir os pontos).
Graças a Deus alguém pensa no próximo, porque se for depender de mim, acho que tá todo mundo lascado! Hahaha! Sentiu o compromisso que eu tenho com a sociedade, né... eu sou um cara bem legal, gentil... puderam perceber! =P

(A linda 윤은혜 e o baitola 김현중 suplicando para você comprar a camisa)

Eu achei a iniciativa muito boa, pois aproveita um mercado em grande potencial (pô, quem não vai comprar uma camisa vermelha na época da Copa para torcer para o Park Ji-Sung e seus companheiros Red Devils?) e a possibilidade de ajudar a pessoas que realmente precisam.
Eu mesmo já garanti a minha.


(vários baitolinhas juntos cooperando para o bem da humanidade)

Você, que mora na Coreia e não tem problema em torcer para um bando de pernas-de-pau como o Park Ji-Sung, saia da sua casa e vá na lojinha da Basic House comprar a sua. Faça a sua parte, bruto!

PS1: sim, o tópico foi gigantesco só pra falar de uma camisa. So sorry, galera... da próxima vez vou tentar algo melhor.
PS2: não, a Basic House nem sonha que um "blogueiro famosíssimo" como eu estou fazendo propaganda gratuita para eles.
PS3: sim, estou fazendo um esforço sobre-humano para conseguir tópicos e escrever no blog, afim de recapturar os leitores que me abandonaram. Comentários fazem os blogueiros felizes de vez em quando também, viu! Haha!