segunda-feira, 12 de julho de 2010

Resumo: Participação coreana no Mundial 2010

Como estamos em ritmo de Copa do Mundo, nada mais normal do que falar da própria.
Sim, poucos leitores que restam, eu ainda estou vivo! E cá estou hoje, comentando sobre as besteiras da vida cotidiana na Coreia.

Essa é a primeira vez que eu assisto uma Copa do Mundo fora do Brasil... e por não saber onde estarei durante a próxima, em 2014, não vou colocar esta como a única (obviamente, em 2014 vou fazer um esforço SOBRE-HUMANO para estar no Brasil e poder morrer na guerra que será a Copa por lá! Haha!).
E essa primeira impressão está sendo um tanto mágica, por estar em um país que se rende a qualquer evento internacional, PRINCIPALMENTE a Copa do Mundo.
Ver aquele amontoado de "japas", praticamente um em cima do outro, no City Hall (시청) de Seul é uma coisa bastante diferente para quem nunca teve a sensação real de uma Copa, já que Brasília não é exatamente um centro de comemorações desse tipo de evento.

A primeira partida eu fui ver em 홍대 (Hongdae, lugar conhecido por bares bons e baratos, clubs, universidades, entretenimento em geral..) uma coreanada maluca. Fomos para um bar às seis da tarde, mesmo sabendo que o horário do jogo seria somente 2 horas depois. Por razões óbvias, sabíamos que esse antro estaria lotado em poucos minutos após a abertura. Motivo: mediante o pagamento de 20 mil Wons, você entrava no bar e poderia ter cerveja até entupir o estômago ou acabar com o seu fígado. Não precisa dizer que uma fila imensa se formou, mas, que graças à esperteza de poucos, fomos o segundo grupo a entrar. Portanto, reservamos uma mesa bacanésima em frente a um telão de proporções desconhecidas, que tomava literalmente toda a parede do recinto.
Ao começar o jogo, todos já estavam doidos, excitadíssimos com a possibilidade de uma vitória sul-coreana. Nomes que não paravam de sair da boca da turma: Park Ji-Sung (박지성), Park Chu-Young (박주영) e Lee Chung-Young(이중영) - principalmente o primeiro deles.
Para não perder a viagem, eu tentava sacanear os coreanos no meio do bar... "por que não?", pensava eu. E assim, nas vezes que a Grécia chegava a assustar o gol coreano, eu soltava uns "uuuh", "그리스" ou algo que valhesse só para ver a cara de espanto de geral. E aí começavam: "ah, Gustavo! Você não pode torcer pra eles não! Você tem que torcer pra Coreia! O time é muito bom!". Era só perguntar se tinha mais alguém mais que se projetou no futebol mundial, além do Ji-Sung.. aí eles não podiam falar muita coisa, já que metade da seleção vem de times como Jeju United, Pohang Steelers, Seoul FC. Conhecem? Nem eu... (mentira, eu conheço porque eu vivo por aqui, mas vocês eu duvido muito).

O segundo jogo, contra a nossa amada Argentina, foi cair justamente num horário bacaníssimo aqui pro horário da Coreia: quarta-feira, 8h30 da noite. Meu professor queria me prender nesse lugar chamado laboratório, mas eu dei um jeito e corri de lá. Fui pro meio da gandaia, em Seul, marcar presença o que eu chamaria de um verdadeiro inferno o local que cerca a prefeitura da cidade. Quando eu cheguei lá, mal dava para respirar. Eu estava suando que nem um porco, com sede, me sentindo numa estufa.


(Eu estava no meio dessa multidão aí.. o inferno coreano em plena praça da prefeitura!)

Lá tinha de tudo, desde vendedores de rua até pessoas oferecendo abraço grátis. Para não deixar de sacanear um pouquinho, fui abraçar um deles. Como estava pingando de suor, abracei e esfreguei a minha cara molhada na bochecha da menina. Não precisa falar que todo mundo começou a rir, já que era uma verdadeira Tropa Free Hugs... e eu sai rindo pra caramba! Divertido brincar com esse povo..


(Os pestinhas vestidos de 붉은악마 preparados para tomar uma peia do Higuaín em plena 광화문)

A partida foi um tanto engraçada para MIM, brasileiro. Sentei no meio da rua e comecei a ver. A coreanada era levada a loucura com qualquer chute bosta que os jogadores sul-coreanos mandavam. Mas, ao tomar a primeira bomba argentina, o povo já se assustou. Mas uma coisa é bem legal: eles nunca se desepontam por completo. Fica aquele silêncio, nego mandando para aquele lugar o tiozinho que ficava fazendo propaganda cristã com um alto-falante no meio do jogo, bebendo cerveja na rua, olhando pros lados... mas dois minutos depois, começavam a gritar "한국~오~ " (Hanguuuuk, ooooh), uma das canções que os coreanos andaram fazendo para a seleção desta Copa de 2010 e que virou modinha entre as torcidas do país inteiro.
Até o terceiro gol argentino, os coreanos ainda soltavam uns "괘찮아~!" (Está tudo bem), mas com a convicção que estavam tentando ressuscitar um cachorro morto. Assim que saiu o quarto gol, aí nego já ficou meio puto da vida. A multidão começava a se levantar do meio da praça e sair, já que o "cachorro morto finalmente foi dado como morto". Eu fiquei lá até o final e mais um pouco esperando, já que o metrô estaria entupido de gente.




(Sinta o mar de gente que estava essa praça, no dia do show dos argentinos)


O terceiro jogo, contra a Nigéria, foi o pior de todos até o momento, já que foi passado às 3h da manhã e no dia seguinte eu teria que ir para uma reunião com o professor. Portanto, eu fiquei na pacatíssima Cheonan.
Não foi minha surpresa ao ver a cidade deserta durante a hora do jogo, enquanto eu olhava a situação totalmente oposta em Seul, com geral nas ruas que rodeiam a prefeitura.
De acordo com o governo, não deveriam existir manifestações públicas nesse horário (sim, existe uma lei contra isso), mas fizeram uma excessão porque era COPA! E da-lhe corebas em plena madrugada soltos pelas ruas... menos em Cheonan.
Chamei uns meninos da faculdade para assistirem comigo no único bar da cidade que teria um telão e que estava passando todos os jogos do Mundial. Chegamos lá as 3h, meia-hora antes do jogo. Ao entrarmos, já nos deparamos com quase todos os lugares cheios. Se você acha que eu estava menosprezando o nacionalismo do pessoal de Cheonan, aí é que vocês se enganam. O bar era pequeno, e só lotou um pouco. Ainda assim conseguimos um lugar bem confortável atrás de umas meninas doidinhas, em que o assunto principal durante a partida era falar que o jogador X ou Y eram bonitinhos.

(Vendo o jogo no úinco bar de Cheonan disponível para ver os jogos do Mundial 2010: Beer Pub)

O jogo foi bem no estilo de Seul, com os mesmos cânticos, mesmos gritos de 괜찮아 quando o cidadão tomou um gol feio e etc. Ao acabar o jogo, todos abriram um sorriso na cara e foram para casa, silenciosamente, como nada tivesse acontecido.
Nem precisa falar que foi o pior jogo dos olhos puxados que eu tinha assistido, se fizer um ranking.

O último jogo dos asiáticos foi contra o Uruguai, nas oitavas de final (16강). Fomos eu e uma cambada de gringos da época de Daegu (como dizem alguns, a "Daegu Family") assistir um jogo em 신촌, no barzinho chamado BarFly - nome bem sugestivo. Como já esperávamos, o bar só faltou virar de cabeça pra baixo antes, durante e depois do jogo. Ao chegamos, ainda não tinha muuita gente. Mas não precisou faltar menos de meia-hora para que o recinto se transformasse em uma verdadeira pólvora humana.
Depois do primeiro gol dos uruguaios, a coreanada ficou caladinha, sem falar um pio. Mas claro, como bons nacionalistas, recomeçaram, poucos minutos depois, a incentivar a sua seleção, afim de levá-la ao quarto lugar, assim como o fizeram na grande (roubada) campanha do Mundial de 2002. E não é que os gritos deram um pouco certo? O time dos Parks conseguiu empatar, para a euforia dos vermelhinhos que estavam no bar.
Eu e mais alguns gringos, que nada tínhamos a ver com a situação toda, dávamos um caldinho de ajuda aos corebas, tentando incentivá-los, abraçando-os ao ver que os Parks estavam sentando na merda e etc.
Com o segundo gol uruguaio, a corebada foi derrubada emocionalmente, restando poucos gritinhos. Mas como tudo na Coreia, um minuto depois a vida continua e todos foram dançar, graças à uma promoção extremamente boa por parte do dono do bar: a cada gol coreano, um shot de tequila. Nem precisa dizer que nós ficamos agradecidos por receber aquele baaanho de suco mexicano!

"괜찮아, 괜찮아, 괜찮아...!"
("Tudo bem, tudo bem, tudo bem...!")

E com esses gritos que acabou a campanha sul-coreana na Copa do Mundo de 2010

PS: 붉은악마 (Bulk'n Acmá = Diabos Vermelhos) é como são chamados os torcedores fanáticos da seleção sul-coreana. Desde 2002, os torcedores da Coreia do Sul se vestem com blusa vermelha e um arco com chifres piscantes, simbolizando, obviamente, os diabos.

Enquanto isso, se eu fosse os brasileiros, tomaria cuidado com um certo Jeong Tae-se, jogador da seleção da Coreia do Norte. Os norte-coreanos devem estar se preparando para investir no Brasil! Abre o oooolho, camaradas!