quarta-feira, 23 de março de 2011

Conceito de privacidade updated

Tem quase três semanas que estava tentando engatar um tópico aqui, mas a preguiça não me deixava (apesar de que o rascunho já estava mais da metade pronta).

Até que eu tive que interromper para falar de outras coisas que eu julguei mais importante jogar no ventilador coreano.

Tem um tempo que eu analiso, sem me conter de insatisfação, alguns fatores como privacidade, "porrada verbal" e outras coisas que não é de meu costume ver em Brasília.

Eu estava andando de trem pela Coreia afora, voltando para Seul. Vocês não devem imaginar o que há dentro de um simples trem intermunicipal (no caso da Coreia, inter-provincial?). Pois então eu vou contar pra vocês. No caso do Mugungwha, o mais barato dos que rodam pela Coreia, tem um vagão especial que conta com duas micro-salas com karaokê, quatro computadores com acesso a internet, dois fliperamas e ainda um barzinho, onde você pode comprar seu arrozinho com kimchi, coca-cola ou até mesmo cerveja. Enfim, é uma coisa de gente "civilizada". Acho que no Brasil esse negócio não funcionaria muito bem não. Mas enfim, vamos ao que interessa.

(computadores no vagão - custa míseros R$3,00/h! - funcionaria no Brasil? :P)

(O vagão "especial" com seus fliperamas, karaokês e computadores)

(felicidade no balcão de snacks)

Nessa cabine estilosa, presenciei dois fatos de, no mínimo, deixar assustado.
Não sei se todos sabem que o sangue dos coreanos ferve rapidinho, mas os caras realmente são cabeça quente. Principalmente no que se refere à honra.
Eu estava lá sentado, numa boa, ouvindo meu iPod Touch, com umas músicas bem altas. De repente, comecei a ver uma senhora (apelidada por mim de Kim) falar em um tom de voz um pouco alto. Se até eu, ouvindo música no volume máximo, consegui ouvir, pense em como ela falou. Deu uns gritos para um tiozinho, apelidado de Lee. Eu não tinha a mínima idéia do que falavam, porque eu seguia como meu iPod. Eu só ouvi uns "Senhor Lee! Senhor Lee" (아저씨!아저씨!).. e pensei que não era lá muita coisa. De repente, o que era um grito começou a virar briga verbal.

(a merda estava lotada naquele dia, assim como nessa foto)

Eu, com uma curiosidade mórbida, tirei os fones do ouvido e fiquei acompanhando o caso. Quando eu o fiz, o pau já estava comendo. O que eu entendi da história era o seguinte: tinha uma gringa, negra, que estava com uma baita bagagem de mão - vou chamá-la por Bailey. E nessa parte do trem, existem uns bancos como se fossem de balcão. Ela, que não era das mais magras + bagagem gigante, estava ocupando um lugar animal nesses assentos de balcão. Dava QUASE duas pessoas. Mas até aí tudo bem. O problema é que o Lee começou a falar com a senhora Bailey em coreano, e supostamente coisas muito feias. Provavelmente, ele estava querendo sentar por lá, mas como ela estava sentando em um espaço muito grande, ele ficou meio raivosinho. Pouco depois, Bailey avisou que ia sair do banco, porque a estação em que ela iria sair era a próxima. Então, o tiozinho, só de provocação, falou que ela poderia ficar e ele sentou no chão. Ela levantou, pediu para ele se sentar no banco (pela razão citada) e foi embora. A tia Kim começou falar com ele "como pode você falar com ela desse jeito!? Você sabe que ela é gringa e não tá entendendo você! Por que você fez isso!?". Bem, é uma pena que muitas vezes palavras não são capazes de exprimir fielmente o sentimento das ações. Mas a Kim estava praticamente dando um sabão no Lee. Ele, que PARECIA meio bêbado, ficou argumentando, mas de boa, sem levantar a voz. Eu não entendi muito bem o que ele falou, mas logo o marido dela, que estava junto, começou a falar com ele também. Não me lembro como uma paradinha banal chegou a esse ponto, mas de repente o Lee pira de vez e xinga o senhor Kim de fdp. Aaaaaaaaaah, meu irmão! Ser chamado de cachorro aqui é um xingamento DAQUELES (um pouco pior que fdp). O Kim sai da cadeira dele, chega junto e firme no Lee, e começa a perguntar, em voz de ameaça, se ele era o fdp da história. Nossa, o pau começou a rolar, e a tia Kim grita para o balconista chamar o supervisor do trem. Pouco depois, ele chegando, a Kim começa a "dedurar" o Lee por seu "mau comportamento", em voz bastante alta. Naquele momento, pensei "Caramba, que para maluca! Vou registrar isso!". Saquei meu celular - que é horrível - e na cara dura comecei a filmar o acontecimento. Eu estava parado, filmando de onde eu estava, não fazendo nada para ninguém. O supervisor, portanto, começou a pagar mó sabão para o senhor Lee. Ele, só de cabeça baixa e não tentando contradizer muito, falava pouco. Eu não entendia absolutamente quase nada do que ele dizia - só posso dizer que o supervisor mandou ele agir com civilidade ou ele teria que se retirar do vagão. Então, não mais que de repente, um coreano que estava a alguns centímetros da minha pessoa se desloca até mim e diz: "Hey, privacy, ok!?" e, com um toque "sutil", desliga o meu celular (não é exatamente desligar. Para quem tem celular do estilo slide, ele só foi "slided" pra baixo, ficando no standby). Olhei pra ele, com cara de: "que diabos você está fazendo, meu filho?", mas sem direcionar uma palavra para o retardado - e depois, com cara de bunda, fiquei só vendo o desdobramento da história.
Para o meu azar, o retardado do coreano chato que desligou o meu celular, resolveu "dedurar a minha ação" ao supervisor. Simplesmente o chamou e disse "esse gringo está filmando o que aconteceu, mas é privado". Não deu outra. O empregado da KORAIL mandou eu deletar o vídeo que continha a parada. Eu, revoltado com essa atitude sem noção, falei: "Ok.. do it yourself". No final, o supervisor me pagou um sabão e ainda tive os meus vídeos apagados.

Agora, queria saber uma coisa.
Que privacidade é essa em um ambiente público? Essa não é a primeira vez que eu questiono essa questão para amigos e para o meu subconsciente, naquelas conversas que normalmente os loucos tem consigo mesmos.
Na minha humilde opinião, se eu tivesse filmando alguém tomando banho ou a casa de alguém, algo que realmente seja privado, eu entenderia. Mas putz... os velhinhos que fazem o escândalo, soltam a "porrada verbal", bem escandalosos, e eu que estou fazendo merda? Ah, por favor, viu.
Eu tenho minhas teorias, bem mal-feitas, que funcionariam para argumentar essa atitude estúpida do coreano sem noção.
Uma delas é a que fará com que os leitores atirem pedras contra mim. Mas mesmo assim, vou falar.
Os coreanos tem um sentimento nacionalista animal, para o bem e para o mau. Isso é fato, desde que você conviva minimamente com um coreano. Portanto, tem orgulho de sua cultura, sociedade, etc.
Logo, um vídeo com chances de acabar sendo colocado no Youtube poderia desmistificar a lenda de que coreano é super-gente boa, sem stress, muito educado e outras coisas.
Além do mais, esse vídeo poderia "desgraçar" a vida de alguém, já que as pessoas não teriam seus rostos cobertos. Como os coreanos são obsessivos com a "Imagem" de uma pessoa - em que tomam a frase "Imagem é tudo" quase ao pé da letra - é bem possível imaginar um escândalo provocado por um vídeo mínimo espalhado pelo youtube.

Agora...
por favor, coreanos, não sejam hipócritas, ok?
Se querem fazer merda e não serem expostos, que não o façam em ambiente público, tá? :)
Agora foi dado o recado.

[pissed off mode OFF]

11 comentários:

  1. Geeennntee....que barraco hahahaha, gente sem educação pra todo lado e você que sobrou na dança toda. E o povo em volta? não fazia nada? só olhava? ou nem isso?
    No final, se no Brasil funcionasse um trem desses, o supervisor iria falar "Oee, roupa suja aqui só se lava em casa , okey?" hahaha....mas como não funcionaria, tá mais pra: "Oeee! Fique a vontade meu senhor, quer ajuda para filmar?"

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  2. Daria tudo pra ver essa cena.No minino patetica.E eu que achava os coreanos reservados.
    O que tem de mais legal na Coreia?E fácil de fazer amizades por ai?

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  3. O mais triste é que esse tipo de trem já existiu muito aqui no Brasil.
    Meu pai ia do interior de SP pra capital num desses.Ia devagar, mas ele ia no vagão-restaurante, tomava um café, voltava, etc...
    Com certeza podria voltar a existir.Com gente barraqueira e tudo.

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  4. É geralmente quando pensamos em Coréia pesamos em pessoas reservadas, mas pelo visto não é bem assim, na verdade é bem o oposto...
    Se está fazendo baixaria em local publico, eles não deveriam se incomodar em deixar filmar pô!

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  5. Eu creio que os norte-americanos são mais extremistas ainda. Eu li que um senhor afirmou que ele evitava embracar no elevador acompanhado apenas por uma mulher a fim de evitar possíveis complicações legais. Acusação de assédio, etc. Afinal, por qualquer motivo, os norte-americanos acionam a justiça.

    Em relação aos coreanos, eu acredito que foi uma reação exarcebada, mas eu creio que essa reação seria comum em países asiáticos nacionalistas como a China comunista. Afinal, eles desejarão evitar a divulgação de cenas indesejáveis, comprometedoras e embaraçosas perante o mundo.

    Quanto ao senhor coreano, o comportamento dele foi extremamente pueril, inadequado, inceitável e reprovável por se tratar de um motivo fútil. Bem, no Brasil, mata-se por motivos ainda mais fúteis.

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  6. Hmmm... Para apaziguar os ânimos e espalhar a alegria contagiante, eis uma sugestão bem singela e humilde:

    Todos os envolvidos, inclusive o Gustavo, deverão estar de mãos dadas, formando um círculo. Em seguida, nada melhor do que rodar, saltitar e cantarolar a antiga, saudosa e querida cantiga:

    ♩ ♪ ♫ ♬ Miranda, (na) varandinha, Vamos todos merendar... ♬ ♫ ♪ ♩ (Afinal, nada melhor do que encher o estômago para dissipar os pensamentos negativos... Burp!)

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  7. Quem for menino mal-criado, desobediente e furar a fila não receberá a merenda da Titia (ajumma?). Além disso, ficará de castigo e receberá palmadinhas "carinhosas" no bumbunzinho.

    Tadinho do Miranda... Que Titia bem foderosa! Uau! Eu acho que até o Kim Jong Mentally-il(l) (de cabelo arrepiado ou é topete!?) se submeterá à "Dama de Ferro"... E o mundo agradece!

    Paz e amor, bicho! Love and Peace!

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  8. Cara, nesse caso o retardado é tu mesmo.
    Aqui a coisa pode esquentar mas fica entre os envolvidos e tu com essa de filmar o quiprocó, coisa de brasileiro futriqueiro quis meter o dedo onde não foi chamado.
    Meu, convivo com coreanos a mais de anos, minha noiva inclusive e fato é, ou tu aprende a entende a cultura deles que bem diferente da nossa ou arruma as malas e vai embora, deixa de ser reclamão.

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  9. Caro amigo ddflach. Eu concordo com o seu raciocínio, pois o Gustavo estaria infringindo a privacidade alheia.

    Porém, isto não lhe dá o direito de ser rude ou usar palavras descorteses, pois isso tira o mérito do seu raciocínio.

    Eu imagino tal cena nos EUA, pois por qualquer motivo (fútil), você está sujeito a processo judicial.

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  10. Whoops. Retificando: Ao me referir a "por qualquer motivo (fútil), você está sujeito a processo judicial", é sobre a filmagem da cena conflituosa, pois as vítimas poderiam alegar invasão de privacidade e/ou preservação de imagem.

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  11. ou vc é um mimadinho, ou alguém mto infeliz com a vida (quem sabe as duas opções) Continue com essa triste ilusão de achar que há lugares em que todas as pessoas são educadas, a fama da Corea pode até ser essa, mas com um pouco de inteligencia sabemos que não se pode generalizar e com mais um pouco de inteligencia não ficamos chocados se virmos uma ceninha dessas (a ponto de querer filmar, haha.. fala sério né?)

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