sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Vacina, quê?

Como as pessoas sabem, existem países que requerem um comprovante de vacinação para entrada no país. Isso é exigência, para muitos, sob o controle de febre amarela, por exemplo.
E como eu estou indo para um lugar desses que é obrigatório, lá vou eu percorrer Seul a procura de um lugar.
Hoje, fui na imigração aqui de Jongno tentar colocar um "adesivo-visto" coreano no meu passaporte novo. Pra ver se já adiantava a minha vida, de quebra perguntei se a menina que me atendeu lá sabia de algum lugar onde eu poderia tomar vacina para febre amarela. Ela botou um ponto de interrogação bem gigante na testa e falou que só era da Imigração, não tinha nada a ver com a história de vacinas. Mas depois soltou que teria nos 보건소 (Health Center - Centro de Saúde) da vida.
E lá vou eu no mais perto da minha casa, no centro de Jongno. Depois de caminhar um milhão de anos, já que me perdi com aqueles mapas mal-feitos, bem estilão coreano mesmo, acertei o lugar. Sim, depois de uma hora e meia caminhando sobre a neve, sem luva ou outra proteção que não fizessem meus dedos da mão caírem de tão congelados que estavam (chega a mão ficava vermelha), passeando pelo Gyeongbokgung e pelo centrão da cidade, eis que me deparo - na verdade eu tive que adivinhar pelo mapa, porque é meio escondido - com o tal. Chegando lá, como sou o "gringo dã", já sabia que não iriam entender meu coreano super-fluente. Então, parti pro inglês e "vamo que vamo". Uma tiazinha me atendeu, em inglês (uffa!), e pedi pra ela uma vacina para febre amarela. Bem, eu tinha a idéia brasileira de que qualquer muquifo que se chamasse "Centro de Saúde" deveria ter as vacinas mais normais do mundo. Só para contrariar, a senhora me responde que não. Putz... dai eu pensei, quase xingando a corebada inteira: "Como assim NÃO?". Como eu estou naqueles dias meio esquisitos, que normalmente as mulheres que sabem mais (as known as TPM), eu fui muito impaciente com ela e perguntei: "ok, tia, então me dá uma dica aí. Eu realmente preciso dessa vacina. Imagine que eu chego lá no aeroporto e eu não tenho a tal da vacina. A senhora acha que eles vão deixar eu entrar? A senhora acha que eu vou ficar com uma cara de feliz ao ouvir um "você vai voltar pra Coreia, aqui está bloqueado para o senhor" ?". Nossa, a mina ficou desesperada tentando me ajudar. Saiu ligando para vários hospitais, mas ainda cometia aquele erro de todo coreano bunda: "Alô? É do hospital X? Então... tem um wegugin (estrangeiro) aqui e ele quer tomar uma vacina de febre amarela, vocês tem aí?". Nem precisa falar que o percentual de negativas era 100, né! E não me espantaria se a causa fosse o adjetivo que descreve a minha pessoa como "semi-gente" aqui na Coreia. Daí, grilado com a situação, mandei uma no estômago da coitada da ajumma: "Olha, minha senhora... não precisa ligar e falar que eu sou gringo não, tá. Aqui na Coreia algumas pessoas rejeitam os gringos, então fala que tem uma PESSOA que ser vacinado porque está indo para um lugar bizarro, pronto. Beleza?". Ela olhou com uma cara, e falou com um tiozinho atrás: "é, mas gringo e coreano são a mesma coisa, né?". Acho que só ela, do posto de saúde, que não sabe as merdas que a gringaiada sofre por aqui para ser tratado de igual pra igual com os nativos.
E é ligação que não acaba mais, o tiozinho atrás dá uma dica de hospital que não dá certo (ps: ela retirou a palavra GRINGO e só falou que tem alguém querendo ^^), e vai, e volta, e olha no catálogo de hospitais, vai no Naver, no Daum.net... e nada. Tentei falar pra ela que eu era estudante, que não tinha muito dinheiro (dizia a lenda "julianística" que postos de saúde tem diferentes preços de hospitais - nestes, exorbitantes)... ela deu uma risada e falou que sabia disso, mas que não conseguia achar um outro posto de saúde que fizesse essa mesma vacina.
No final de toda aquela novela, com clima detetive e fim trágico, ela me dá o veredito de suas investigações: "olha, tem esse aqui em Dongdaemun e outro no Aeroporto de Incheon. O primeiro é mais perto pra você... mas custa 32,000 wons (25 dólares) pela vacina de febre amarela". Eu olhei pra cara dela e falei: "Eu não te disse que ia ser mais caro que aqui!!!!! Poxa, não tem outra maneira não?". E ainda, pra piorar, o sistema ainda quis dificultar ainda mais a minha vida: "bem, tem muita gente indo pra lugares estranhos - com doenças contagiosas - portanto você tem que agendar com um dia de antecedência.. e só vai rolar de você entrar lá dia QUATRO DE JANEIRO". Depois de todo esse esculhambaço, eu só tenho a agradecer a esta tia. Ela foi toda paciente comigo, mesmo em meio a minha carga de TPM pra cima dela, me ajudou tentando ligar pra outros hospitais e ainda fez uma reserva pra mim (de enfiar a faca). No final de tudo mesmo, mandei um "nossa, só tem em dois lugares, hein... pelo jeito coreano é imune a tudo, não deve precisar dessas coisas de pobre! Hahahaha" Ela só deu aquela risada, típica de "uffa, fiz meu trabalho, agora ele que se exploda"!
De coração, obrigada, ajumma! Você está no meu coração! :)

Mas eu fico imaginando... numa cidade com mais de dez milhões de habitantes, pessoas que supostamente deveriam cuidar da saúde paga pelos impostos, ficam brincando com as vidas alheias. Não só brincam, como cobram o olho da cara por um medicamento essencial na vida do ser humano de país sub-desenvolvido :P
Lá vou eu enfiar o pé na jaca por causa de cretinos como esses...

Fica o meu protesto contra o serviço de saúde oferecido na Coreia.

E vocês... fiquem com as fotos que eu tirei no caminho para o posto de saúde:

 (saindo de casa, a neve... duh!)

  (saindo de casa, a neve... duh 2!)

  (saindo de casa, a neve... ECA! Isso é o que acontece depois de um tempo.. ainda acha neve bonita?)

  (saindo de casa, a neve... quer tomar um tombo de leve?)

  (no caminho de Anguk... um palácio aleatório aí chamado Changdeokgung)

  (casas, obviamente reformadas, em Bokcheon)

  (eu com toca para proteger os ouvidos e o cabelo curto... além da barba por fazer no meio da "tradicionaleza")

  (além do horizoooooonte.. dessa Coreia de ruas tão curtinhas! ^^)

  (bonecos de neve... eu que montei: meu passatempo favorito! :P)

  (COUPLE! COUPLE! PERIGO! PERIGO!)

  (M de...?)

  (onde o velho se contrasta com o novo...)

  (o antigo com o moderno...)

  (Bunitinhu, baby!)

  (mais do mesmo)

   (queria que os palácios de Brasília fossem assim, seria mais estiloso, apesar de ser NADA A VER com a cara do Brasil)

   (neve, neve e mais neve...)

   (City Hall - Xínê - Dáuntáum - Centrão)

   (O bicho escroto do lado é o Haechi, guardião coreano - lenda)

  (Parabéns pra eles!)

  (Como-lhe? Explicando: agradecimentos aos países que salvaram a Coreia do Sul de se tornar comunista)

  (sim, a Guerra das Coreias está no Guinnes Book com a guerra que teve mais países aliados - nego acha vantagem pra TUDO nessa vida)

  (Caveirão da SWAT coreana guardando a embaixada do Tio Sam)

  (Uh! Caveira!)

  (PMs levando a marmita para os que protegem o santuário americano 24hrs)

  (O pirulito da eleição!)

  (Eu e o maior feito do presida Lee Myung Bak)

  (Eu e o Haechi versão baby... coisa de macho, claaaaaro!)

  (O rio mais famoso da Coreia- por ser despoluído - te desejando feliz natal e um próspero ano novo)

  (Vamos fugir... DE CARRUAGEM! Sim, como bons judeus, os coreanos fazem comércio até nessa área)

Para os que querem uma dica, em vez de postar comentários, já vou falando logo:
- Hospital perto de Dongdaemun: 02-2262-4833
- Aeroporto: 032-740-2703
- Outros sites úteis: Lista de hospitais para yellow fever, Sodaemun Posto de Saúde

Se tiverem outros lugares onde eu possa ter acesso a siringa por um preço mais acessível, postem um comentário ou algo que valha a minha atenção.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

É Natal, é natal!

Ho ho ho!
Sim, finalmente eu vou tirar a grossa camada de poeira que se empregnou no blog depois de todo esse tempo parado! E logo na véspera de natal! Ó como eu sou legal, estou até dando presente para os parcos leitores que sobraram neste recinto! :)

Em cada natal (já é o terceiro, nas minhas contas) que passo nesse universo único que é o oriente, eu me surpreendo mais. Positivamente e negativamente, claro...! Pra não variar, o frio anda estragando com a minha vida diária, me tornando rarábôjí (할아버지 - vovô) durante todo o inverno coreano. Vou logo me auto-incriminar: eu visto aquelas calçolas por baixo do jeans, para ficar mais quentinho. Pode vir me sacanear, falando que é de velho ou de viado, mas antes ter um desses adjetivos do que morrer com esse clima que afugenta qualquer possibilidade de ter diversão por aqui.

(o objeto da vergonha)

Como vocês devem saber, uma grande parte dos coreanos acreditam em Deus. Outra enorme parte não. Mas acreditar ou não no Papai Noel não faz muita diferença, já que o negócio aqui é CONSUMIR e curtir a data. Portanto, os coreanos aceitam o Natal de braços bem abertos, até demais para quem era de maioria budista até não muito tempo atrás.
(PS: Claro que já rolou até porrada e críticas no governo porque o presida Lee é crente e quis colocar árvore de natal e os caralhos de feriado para o Natal, mas para os budistas, não sobrou muita coisa nessa vida de feriados e comemorações)
As cafeterias e outras milhões de lojas de departamento estão aí para suprir a necessidade capitalista da galera, que mesmo com a Crise 2009/2010, não hesitam em usar o cartão de crédito no limite. 
Eu fico pensando, às vezes, quão reclamão o empresário brasileiro é na hora de um feriado que pode trazer tanto lucro pra ele. Aqui existe SERVICE (no bom português, regalias grátis caso você compre alguma besteira) para tudo quanto é coisa. Hoje mesmo fui comprar o meu presente de natal e eles fizeram a embalagem natalina NA FAIXA pra mim. E não é porque eu sou gringo, imagino eu. Sério, ou eu sou muito ruim de escolher lugar pra comprar, ou isso realmente é difícil de existir no Brasil. Então, empreendedores do meu Brasil varonil, abram o olho e aprendam, mais uma vez, com os coreanos.
Normalmente, os lugares em que a gente gasta dinheiro por aqui já tem um aspecto meio cute, meio viado, como o mundo oriental já é (vide Japão). Na época do Natal, então, o negócio aflora o sentimento rosado dos coreanos e aí salve-se quem puder de tanta purpurina!
Esses dias mesmo eu fui pegar o ônibus 140 para Itaewon e guess what: ele estava todo decorado com apetrechos natalinos... que bonitiiiinho! A mulherada de plantão, então, deve quase virar os olhos de tanta emoção ao ver uma coisa viada fofa ao extremo desse jeito:

(busão desejando "Merry Christmas" em coreano)

(dentro é praticamente um carro alegórico)

(welcome onboard, Houston!)

(Ho ho ho! 메리 크리스마스)

Como parece que a grande maioria dos coreanos (especialmente os ateus/budistas/qualquer outra religião não-cristã) não é muito antenada no verdadeiro significado do Natal, o evento acaba sendo sinônimo de gastança e... NAMORICO, claro! 
Pelo menos no Brasil que eu conheço, as famílias se reúnem, comem juntas, distribuem presentes e etc que todos vocês devem imaginar, talvez fruto da influência européia e estadunidense em nossos lares tropicais. Mas aqui o negócio não funciona bem assim. Dizem os coreanos que eu conheço (não venha aqui para me desmentir caso o seu amiguinho coreano não faça isso!) que o normal é ficar de couple - isto é, em vez de ficar com a família, ficar com o seu namorado, namorada, pegante, amante, whatever - no dia do Natal e levar o parceiro para um restaurante muito bom. A explicação parou no restaurante, mas diz a lenda que nessa época os motéis coreanos estão mega-lotados e faturam que é uma beleza! 
Para quem pensa que coreano é "super-família" e etc, deve ter ficado triste com essa coisa não muito unida deles, né! Haha!

Bem, agora que vocês já puderam ter uma noção do nível da papagaiada, eu vou-me embora!
Feliz Natal a todos os que quiserem receber presentes! :)