quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Pergunta e Resposta, volume 1

Depois de duas semanas sem mandar um post, eu senti a necessidade de alimentar esse trosso para poder dar mais forca a dor de barriga que voces podem ter depois de lerem esse texto.

Eu estive pensando no que escrever, mas um cidadao (gordo) resolveu me perguntar uma coisa que eu nao responder com nenhuma certeza. Mas vamos lah, o que importa eh postar! =P


(James: me conte como a crise mundial está afetando a Coréia do sul! =D )
James, meu filho... eu nao sou nenhum economista, mas vou tentar responder a sua longa e complexa pergunta.
Quando eu cheguei na Coreia, cheguei com poucos dolares que me foram doados para comer, dormir e fazer compras durante o trajeto (se voces nao se lembram, o trajeto foi um tanto quanto longo: SP-Roma-Narita-Seul-Daegu).
Apos receber uma abencoada migalha do governo sul-coreano, podia dizer que ganhava "em dolares", jah que aqui o esquema era soh dividir a moeda nacional (Won) por 1000 e pronto, tinha-se a cotacao em dolares americanos... praticamente.
De repente, um furacao bateu na Coreia do Sul e o pau comecou a comer. Alias, nao foi um furacao nao, foram dois.
O primeiro jah era grave: foi achada melanina em produtos industrializados vindos da China. A midia coreana estava enlouquecida, publicando coisas e mais coisas na televisao (isso porque eu nem vejo televisao direito, mas quando eu dava uma espiada era soh disso que se falava). Ouvi dizer do meu pai que a coreanada soh nao protestou nas ruas porque tem medinho da retaliacao chinesa-comunista-safada.
Porem, esse negocio precisa ser melhor explicado. Sabe-se que coreanos amam fazer um protesto. Se tem algum pretexto, mesmo que seja sobre uma ilha que nem existe direito no mapa (Dokdo Island), a coreanada arranja uma forma de se organizar e sair pelas ruas com velas ou sei lah o que tenham na mao para protestar. E a policia? Nao faz nada... afinal, tem que respeitar os mais velhos, oras! Haha..! Sabe-se tambem que os coreanos andaram fazendo vigilia de protestos (isto eh, varios dias protestando) contra a importacao de carne bovina proveniente dos amados Estados Unidos da America. Soh faltavam xingar a mae, mas ateh aih, nao era nada anormal para os olhos coreanos. Alem do mais, os EUA dao uma de lindinhos e passam a mao na cabeca dos coreanos, achando que em vez de estarem xingando a mae dos americanos, estao as elogiando.
A mesma coisa nao ocorre com a China. Todos sabem que os chineses sao um perigo, enfrentam inimigos na raca e que as consequencias venham. Isso aconteceu varias vezes e a Historia estah aih pra provar esses eventos (que as vezes sobrou pros proprios chineses! Toma!). Como os coreanos conhecem os "vizinhos" que tem, onde eh que eles ousariam aprontar a de "xingar a mae dos chineses"? Pra sofrer retaliacoes? Claro que nao... eles ficaram quietinhos, pianinhos.. soh tentando tomar cuidado pra nao comer coisa estragada! Haha! Agora voce, querido leitor que nao entendeu bosta do que eu escrevi (jah que meus escritos sao um lixo), que cargas d`agua os chinos poderiam fazer com a pequenina Coreia do Sul? Aaaah, nada.. simplesmente cortar o fornecimento de produtos industrializados, importacao de produtos e o "baralho" que haja para que a terrinha aqui se exploda.
Aaaaaaaaaah... agora entendeu? Pois eh... a coreanada eh um tanto quanto esperta, nao eh? Huahuahua! Na verdade, tah mais pra medrosa do que pra esperta. Mas enfim, isso nao vem ao caso, porque acabei de perceber que perdi o foco do texto.

A segunda catastrofe eh essa: a crise financeira mundial. Enquanto os coreanos olhavam para os seus proprios umbigos tatuados de SAMSUNG ou LG, o pau comia mundo afora. De repente, a coreanada resolveu abrir o olho e acordar pra realidade.
Nem precisa falar que quando comecaram a enxergar (o que as vezes eh um pouco dificil), jah era tarde. O mundo jah estava virado do avesso e aih os simpaticos donos da SAMSUNG e LG piraram, sem saber o que fazer. Daih, porque nao fazer a Coreia toda pirar tambem?
Para os sabidoes de Businesses, a Coreia tem sua economia baseada em exportacoes, especialmente de eletronicos, aco, carros, navios e todas as outras coisas que voce veja pela rua com as marcas Samsung, LG, Hyundai, KIA, DAEWOO (soh pra citar os bracos, as pernas e a cabeca da economia coreana. Ainda falta algumas outras marcas menos importantes). Imagine se todo mundo resolvesse nao comprar mais seus produtos porque nao tem mais dinheiro? Ou que ficou caro vender no outro mercado? Aaaaaaah, negao.. agora voce entendeu o problema que assola a Coreia!
Ou melhor, voce comecou a entender... porque ainda nao viu o outro lado da coisa.
Para os sabidoes da situacao, a maioria dos produtos comestiveis e outros sao IMPORTADOS. Sim, tem uma pancada de coisa que eh MADE IN "SOMEWHERE IN ASIA" por aqui. Imagine se essa pancada de coisa fica mais cara pra comprar... aih vai ficar mais caro pro consumidor coreano, claro. E aih o mundo cai, jah que o custo de vida coreano nao eh dos mais baratos. Vide o custo para se viver em Seul (SEUL eh cidade TOP10 em Custo de Vida).
Portanto, filhao... estah na hora de chorar! Ou entao de fazer alguma coisa. Alias, eh o que o odiado presidente Lee Myung-Bak estah fazendo. Nao, ele nao estah cocando o saco e esperando a tormenta passar. Alias, ele nao tem nem condicoes de fazer isso, jah que ha muito tempo (desde o inicio do ano), merdas dele tem sido jogadas no ventilador. Sim, MUITAS merdas! Isso porque eu nem sei de todas... imagine o que esse cara tem de sujeira!..

Agora um parentesis para a minha realidade na Coreia:

essa crise toda nao faz MUITA diferenca na minha vida de weekdays (segunda a sexta)... afinal, eu como todos os dias comida de QUINTA categoria, bem das xexelentas mesmo. Portanto, isso faz o preco da comida BEM baratinho. Como resultado, eu nao tenho preco acrescido por causa da crise que afeta ateh mesmo os alimentos. E se voce pensa que eu jah me ferro bastante com a comida aqui, eh porque nao sabe a situacao dos MUCULMANOS que vivem por aqui. Como no "RU" daqui as cozinheiras soh fazem carne bovina, chicken, peixe ou suina, pode-se perceber que eles rodavam bonito, jah que nao podem comer essas carnes (exceto a de peixe OU chicken, com aspas). "Viva!"

Espero que a sua pergunta tenha sido saciada..

Pronto, chega de coisa cultural. Pelo amor de Deus... esse blog eh pra falar besteira, nao pra discutir coisa seria.
Proximo post eu prometo coisas que facam das suas noites periodos mais felizes, ok?

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Lugar do inferno

Hoje eu estou com uma falta de vontade de ir pra "academia" aqui do meu lado..
entao eu vou dar uma postada para quebrar a tradicao de ser um blog semanal! =P

Alguem aih jah ouviu falar de SAUNA?
Provavelmente os brasileiros devem estar se lembrando do Casseta e Planeta, com o quadro da "sauna gay". Pois bem.. e jah estao todos sabendo que, pela 40a vez, passei meu fim de semana em Seul, neh?
Nesse final de semana, eu passei cada dia em um lugar. Na sexta, me desliguei do "grupo turistico" que eu estava passeando e fui pra casa de uns chapas que conheci uns dois anos atras, em outro canto do mundo (Australia). Fiquei na casa da Sanghee (상히) e do Steven (상섭), coreanada gente boa pra caramba! Mas enfim... depois de passar o dia com eles contando os babados sobre a vida dois anos depois de dizer o ultimo "Tchau", fui me encontrar com o "grupo" novamente. Depois dos Fireworks e uma visitinha esperta a Itaewon, fomos dormir numa Sauna, pois nao estava afim de incomodar de novo a Sanghee pra pedir que um homeless ficasse na casa dela mais um dia.
Eu nao tinha ideia de como era uma sauna. A Briza, brasileira conivente aqui de Daegu, tinha me dado uma explicacao muito vaga deste local, como se fosse um local "normal" e infinitamente mais barato que pagar um hotel. Enfim, a ideia era de um hotel para pobres! Mas o que rolou foi outra coisa. Alias, eu vi varias coisas que eu nunca desejei ver em momento nenhum da minha vida. Credo... soh de me lembrar, me dah pavor dessa situacao. Bem, pelo menos agora eu sei de onde a galera do "Casseta" tirou a ideia de existir, em algum lugar desse mundo, a verdadeira "sauna gay". Eu acho que eles deram uma passada pela Coreia e foram bastante inspirados...

O que rola eh que a gente ficou em uma sauna perto da Seoul Station que era um local verdadeiramente cinco estrelas, em termos de saunas gays! Haha! Era um predio inteirinho dessa Sauna. Tinha andar para relaxar, outro para andar, outro com playground para criancas, outros com choveiro... enfim, uma coisa "linda de Deus".
Eu achei tudo normal ateh chegar o outro dia, quando eu queria tomar o sagrado BANHO. Eu peguei minha toalha que tinha trazido da minha terra, o meu sabonete e me dirigi para o "Men`s Bathroom", indicado pela setinha das placas. Mas quando eu comeco a pegar minhas coisas, eu percebi alguns seres do sexo masculino inteiramente NUS, como se estivessemos em uma praia de nudismo. Eu vi o primeiro e achei que ele deveria ser o unico louco a ficar balancando suas partes publicamente como se fosse a coisa mais normal do mundo. Quando cheguei no banheiro, quase gritei um "PQP". Eu era o unico que estava vestido. O resto era um bando de coreano com seus membros de fora. Foi a verdadeira visao do inferno a primeira vista! o.O
Eu olhei para aquilo, fiquei tentando entender que merda era aquela e como eu poderia tomar banho em um lugar daqueles, jah que nao tinha nenhum balcaozinho para guardar minha toalha e vestimentas, apos tomar o meu banho. Voltei pro andar de cima (onde ficavam guardadas a minha mochila, tenis e etc) e perguntei pro Mathews que coisa era aquela e o que eu deveria fazer para tomar banho. Explicacao simples proveniente do alemao: "Tira a roupa aqui, deixa ela aqui no seu armario e vai lah pro banheiro". Aih que eu entendi porque eu tinha visto tantas "cobras" pelo corredor...
Entao, eu tive que partir pro sacrificio. Tirei as minhas vestes e fui com a minha simploria saboneteira para aquele antro de "serpentes". Na boa, nao foi uma experiencia muito heterossexual a que eu tive quando eu entrei no banheiro propriamente dito, onde ha chuveiros e o caramba. O "caramba" significa tem muito significado.
Sao citados abaixo as coisas estranhas presenciadas dentro desse banheiro, que me fazem pensar que eu estava em uma verdadeira sauna gay:
  • havia duas piscinas de agua quente para a coreanada masculina entrar NUA. Mas o que me espanta eh que a piscina era muito pequena, praticamente uma banheira... e os coreanos ficavam nus e juntos como se nao tivesse nenhum problema! o.O
  • eu presenciei a vista de um coreano, em um outro compartimento do banheiro, sendo massageado pelas costas. Mas o detalhe: ambos estavam nus e deitados! o.O
  • parece que tinha uma galera que compartilhava sabonetes! Sim, havia varios desconhecidos... o.O
Credo... isso me deu muito medo! Eu nem acreditei que poderia haver um trosso desse nivel de "gayzisse" no mundo real. E o pior: havia participacao de CRIANCAS nesses lugares. Parecia ser uma putaria generalizada, mas com separacao de sexos (masculino e femininos nao ficavam juntos).
Pelo menos a nudez sem limites era presenciada somente no banheiro. Ainda bem! Eu nao iria dormir naquele trosso com um bando de gente pelada do meu lado nem a pau (literalmente)! Hehe.

Segundo a Briza, isso eh uma coisa normal entre os coreanos. Eu fiquei boquiaberto com essa situacao.
Jah dizia o ditado brasileiro: quando a esmola eh muita, o santo desconfia.
Mas pelo menos a parada era barata! Putz... sai daih, meu! Esse negocio nao eh mesmo comigo!
Depois dessa aventura bizarra, quando voltei ao dormitorio da faculdade, eu me senti muito menos envergonhado ao entrar no banheiro de tomar banho.
Jah expliquei que o banheiro com chuveiros daqui eh comunitario? Isto eh: nao tem nem uma cortininha de separacao entre os chuveiros. Ateh esse dia da Sauna, eu nao me conformava com esse negocio de tomar banho em publico, pra todo mundo ficar dando uma olhadinha.
Jah contei tambem que aqui nesse banheiro com choveiro, a coreanada gosta de conversar enquanto estamos tomando banho? Tipo... parece que pra eles eh a coisa mais normal eles chgarem no banheiro e comecarem a falar sobre a vida, sendo que estamos todos pelados tomando banho. Que porra eh essa... pra mim, esse tipo de banheiro eh pra seguir direto pro seu choveiro, nao olhar para outros, tomar seu banho na boa e ir embora... e nao ficar conversando como se fosse a coisa mais normal desse mundo.

Por isso a minha maior "facilidade" de integracao, depois desse momento impar em Seul.

Bem, pelo menos eu jah sei qual eh a "logica do sistema"... pelo menos eu jah sei o que me espera em uma proxima vez . Espero que essa vez nao exista, mas em caso positivo, jah vou estar mentalmente preparado.

Bem, galera... eh isso aih! Eu nao vou postar fotos porque... po, jah nao eh constrangedor demais falar desse assunto? Quanto mais deixar uma foto, neh! Haha!

Ateh a proxima..

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Subway do cao!

Finalmente, depois de um tempo, estou de volta.
Minha preguica saiu do meu corpo momentaneamente para postar sobre a vida do outro lado do mundo.
As coisas aqui estao indo de vento em polpa, exceto o meu aprendizado da lingua. Putz... como eh dificil falar a lingua! o.O
Na semana passada, fui pra Seul, como de praxe. O negocio eh que esse final de semana foi meio que especial, porque colegas da faculdade me disseram que ia ter dois eventos bacanas: Drum Festival e Fireworks Festival.

O primeiro nao participei muito, pelo fato de ter ido ver amigos coreanos que nao via desde que eu abandonei a Coreia, mais de um ano e meio atras. Portanto, eu cheguei a ir no Drum Festival, mas abandonei. Parecia ter sido legal, pois o lugar eh chamado de SEOUL FOREST. Explicando: eh como se fosse um Parque da Cidade, para os brasilienses.

No sabado foi o dia do Festival de Fogos de Artificio. Foi um evento muito bacana, mas... tenho que explicar.
Eu estava na casa dos Park quando inventei de ir pra beira do rio Han, onde iria acontecer os fogos. Para nao variar, sai de Bucheon (onde eles moram) um tanto quanto tarde. O evento comecava as 19h30, enquanto dei no peh as 17h30. Nao tinha muito tempo, jah que dah para se calcular que normalmente gasta-se 40 minutos a 1 hora para se chegar a pontos distantes da cidade atraves do metro. O que eu nao esperava era que metade de Seul estivesse por aquelas bandas! o.O
Depois de muito esperar no mesmo trem do metro, desci em uma estacao para trocar de linha. Para o meu desespero, o metro da outra linha estava lotado de gente ESPERANDO o proximo trem. Putz... eu fiquei aguniado, porque eu nunca tinha visto tanta gente no mesmo lugar como nessa hora. Eu simplesmente me infiltrei naquele mar de gente que esperava a beira da janelinha de abertura da porta do vagao. Para nao deixar de ser normal, aquela mutidao comecava um empurra-empurra toda vez que chegava o metro. E eu, naquele rio humano. Eu fui seguindo o fluir, nao podia fazer nada. Os caras me empurravam por tras, e eu, inocentemente, empurrava os da frente. Na primeira tentativa de entrar no metro, nao rolou. Eu soh quase vi uma porrada rolando entre coreanos que estavam se empurrando demais e se estranharam. A seguranca do metro estava tentando fazer alguma coisa para conter a brincadeira, mas estava dificil. Jurava que ainda ia ter algum animal querendo se suicidar, jah que a "janelinha" que dah acesso ao metro estava aberta constantemente naquela estacao. Somente na terceira tentativa eu consegui, digamos assim, entrar. Eu nao estava andando, eu estava deixando a "vida me levar". Isto eh, estava sendo empurrado por outros e entrei por osmose, sem esforco algum. O meu esforco era soh para conseguir um ar e um espaco de um metro quadrado naquele local! o.O

Ao chegar na estacao que deveria pular fora daquele alvoroco e voltar a uma vida normal, dou de cara com um problema maior: o mar de gente era infinitamente SUPERIOR! Quando eu olhei aquilo, eu quase xinguei a mae de todos os coreanos! =P
Mas tudo bem... depois de 30 minutos DENTRO de uma unica estacao de trem, tentando subir as escadas, eu consegui achar a galera com quem ia acompanhar o "fenomeno". Ao chegar lah, nao consegui me livrar da multidao. Havia gente para todo lado, e o jeito que a gente foi ver os fogos nao foi dos mais confortaveis: sentamos no meio do parque, a beira do rio, com pedacos de jornal para nao manchar a calca.

Encontrei um novo amiguinho de origem coreana por lah. O cara eh muito gente boa, porque jah morou fora do pais. Normalmente, a coreanada que vai para o "estrangeiro" volta mais open-minded. Isso eh bom, porque coreanos sao muito envergonhados. Entao, fora da propria casa eles aprendem a perder a vergonha! Hehe.

Gustavo (Brazil), Pong (Korea) and Alexis (Finland)

E pronto... para sair de lah, no final do show, esperamos cerca de 20 minutos, para que os mais afoitos pudessem morrer antes de nos. Duas estacoes perto do nosso ponto foram fechadas pela policia por causa do caos humano que acontecia por perto. Meu Jesus! Parecia que havia tido um desastre por lah! Eu estava de cara... tivemos que andar PRA CARAMBA! Mas depois de muito andar, encontramos nosso caminho para Itaewon e pronto. Ficamos a salvo.

Bem... esse post foi um lixo, mas enfim... foi soh pra contar isso mesmo.

한국어, Hangul ou "Lingua Coreana"

O texto abaixo foi totalmente copiado e colado, depois de lido com muita atencao, de um blog de uma brasileira que mora/morou na Coreia.
O texto na integra pode ser visto clicando aqui.

O coreano é uma língua completamente peculiar e a única falada (e adotada oficialmente por um país) 100% inventada por uma pessoa, o rei Seojong, com uma data de surgimento precisa: em 09 de outubro de 1446. Seojong era um rei da dinastia Jeosong (ou Choson), cujo território engloba o que são hoje Coréias do Sul e do Norte. Muito interessado em cultura e artes em geral, durante seu reinado viu-se um florescimento de diversas invenções e tecnologias avançadas para a época. Além disso, Seojong também foi o responsável pela expansão do império coreano, e tinha preocupações militares que o inquietavam. Uma delas era a questão da comunicação.

Antes de inventar o alfabeto coreano, o povo daquela região falava uma língua que advinha do chinês, com modificações de estrutura gramatical e ordem das sentenças. Escrever, por outro lado, era privilégio dos mais nobres, que se utilizavam da complexa escrita chinesa, ou seja, dos caracteres chineses. Dessa forma, qualquer ordem estratégica militar escrita que caísse em mãos chinesas era facilmente decodificada pelo inimigo. Seojong então resolveu criar uma forma de escrever única, que apenas os habitantes do então reino de Jeosong pudesse entender. Inventou o hangul (ou hangeul), o alfabeto coreano.

O hangul foi imediatamente institucionalizado por Seojong, que obrigou todos os habitantes de seu reino a aprenderem a lê-lo e escrevê-lo, unificando assim a linguagem da península e facilitando a disseminação da informação para toda a população - o que de quebra fortaleceu estrategicamente a região, já que era um "código" único que só a península falava, desconhecido pelos invasores. Isso garantiu sua soberania política por mais de 100 anos na região. Os intelectuais da época foram contra a mudança (por que tanta honra aos trabalhadores braçais? Ler e escrever eram privilégios da elite, oras!). Tanto pressionaram que o hangul foi proibido no início do século XVI de ser utilizado em documentos. No entanto, já estava imortalizado entre as pessoas: era a língua do povo. Desde então, houve uma série de "proíbe-permite" do ensino do hangul nas escolas, até que depois da 2a Guerra, o hangul se estabeleceu definitivamente como o idioma da península coreana.

Um idioma de lógica muito simples, entenda-se. Composto por vogais e consoantes, como o nosso, e palavras formadas por sílabas, exatamente como as nossas. Embora a aparência pareça complicada (pelo menos nos olhos ocidentais), é das línguas mais lógicas do mundo. Seojong teve a preocupação de desenhar cada letra responsável por um som de acordo com o formato anatômico que a língua, a garganta, os dentes e a boca fazem ao pronunciarem aquele som. Ou seja, o hangul é um alfabeto totalmente baseado na fonética - suas letras (os jamos) são desenhadas pela fonética, usando tracinhos e bolinhas (essas últimas representam o som mudo, tipo "h" em "hotel"). Por exemplo, o som do "G" é representado pela letra "ㄱ", que é um diagrama básico da anatomia da língua em relação à garganta quando sai o som "gá".

O alfabeto tem 14 consoantes e 10 vogais e 11 ditongos (considerados como 1 letra), e as sílabas são sempre formadas por pelo menos uma consoante e uma vogal, desenhadas dentro de um quadrado imaginário que delimita a sílaba. Há também as "letras duplicadas", que seria mais ou menos como nossos "rr" ou "ss", mas com outros sons (em geral dando mais força à letra única que representam). Por exemplo, o "ㄱ" que falei acima tem sua dupla escrita "ㄲ" e fala-se com um pouco mais de força e ar expirado, soando quase como um "ká". Embora na Wikipedia comenta-se sobre a existência de 11 uniões consonantais, em 3 anos de Coréia eu não vi sequer uma palavra escrita com uma dessas letras. Portanto, em termos práticos do dia-a-dia, encontros consonantais são praticamente inexistentes.

Uma vez que você aprende as letras, você vira criança de 5 anos aprendendo a ler: para em frente a uma palavra e leva 30 segundos para falar uma sílaba, juntar letra a letra que acabou de memorizar com o som correto. Levei um bom tempo para conseguir ler um pouco mais rápido. Só a prática te permite isso e dado que o coreano é uma língua rara fora da Coréia (só nos bairros coreanos espalhados pelo mundo você tem contato com o hangul), meu conselho é que se você quer aprender coreano, vá passar um tempo por lá. Seul é legal e moderna, vale a pena.

No metrô de Seul, há placas e informações em 3 línguas: inglês, coreano e chinês. Com as Olimpíadas em 88, dentro dos carros do metrô também foi instaurada uma voz que anuncia em inglês a estação. Tradução da placa luminosa: "Próxima estação: Irwon. Saída pela direita."

Mas, uma vez que fui "alfabetizada", mais uma vez igual criança, queria ler tudo que via pela frente. Em termos gerais, se você sabe ler o coreano, já é o suficiente para se virar um pouco na Coréia (uns 30%, eu diria). Por uma razão simples: muitas das palavras utilizadas no dia-a-dia hoje vêm do inglês, e estão nas placas/avisos em inglês, apenas escritas com as letras coreanas.

"Snack Car" é a exata fonética do que está escrito em hangul. Ou seja, não há uma palavra em coreano para designar "snack" - então eles usam a palavra em inglês, apenas escrita com as letras coreanas. E isso se repete o tempo todo pela cidade, deixando mais fácil a vida pro estrangeiro que sabe ler o coreano. (By the way, esse é um ônibus-lanchonete, que estava estacionado perto do rio Han. Tinha um debaixo do viaduto perto da minha ex-casa que era "ônibus-restaurante", com aquário para peixes e lulas vivos, e de aparência mais dark que os filmes do Batman.)
O vocabulário da língua, exceto o que vem do inglês, é completamente diferente de tudo que se pode imaginar. Algumas palavras têm raízes chinesas, mas boa parte delas são únicas, criadas para e pelos coreanos. Isso para não falar da confusão dos números.

Há 2 sistemas numéricos em vigor na Coréia, o coreano e o chinês. Ambos são utilizados corriqueiramente, com regras que não parecem fazer sentido. Na dúvida, meu professor dizia para usar o chinês (?!?!). Por exemplo, para dizer as horas é assim: 8:40 você fala o "8" em coreano e o "40" em chinês. Telefones sempre use os números em chinês. Para contar coisas "palpáveis", use o sistema coreano. O preço das mercadorias é no sistema chinês que se fala. Durma com uma matemática dessas.

Apesar das dificuldades, o coreano é uma língua interessante, e a construção/criação do hangul é, a meu ver, simplesmente brilhante. O hangul pode até não se expandir mais militarescamente falando, mas veio pra ficar e para dar orgulho a uma nação unida pela ancestralidade e pela territorialidade.


Curiosidades:

- A romanização das palavras coreanas ainda é motivo de muita discussão, acadêmica e popular. Por exemplo, a cidade de Busan também pode ser escrita como Pusan. Não há um consenso ainda na melhor romanização, e vai se fazendo do jeito que soa melhor.

- O hangul não tem fonemas para "V" nem "F" - esses sons não existem na língua. Portanto, toda vez que eles precisam traduzir pro coreano uma palavra com uma dessas letras, eles colocam "B" ou "P". Exemplo: "fork" vira "pork" e "video" vira "bideo".

- Vale lembrar mais uma vez: apesar de tudo parecer um monte de bolinha e pauzinho, o coreano usa letras, enquanto o japonês e o chinês escrevem por ideogramas. E pensa bem: não são as nossas letras também um monte de pauzinho e bolinha?


Meus comentarios:

eh tudo isso aih mesmo que foi falado e um pouco mais.
Eu estou passando por um pequeno sufoco com essa lingua, por ela nao ser parecido com nada. Entao... quem quiser estudar a lingua do Rei Seojong, pode se preparar para fritar a bunda numa cadeira! =P